A acrescentar a tudo isto, e segundo informações obtidas pelo E24, o estado financeiro desta associação, que vai celebrar 50 anos, é de uma impressionante dívida de 1,5 milhões de euros.
A situação levou mesmo à convocatória de uma Assembleia Geral, inicialmente prevista para 6 de janeiro, mas que foi adiada para o dia 20 do mesmo mês, de forma a pedir a destituição do presidente da direção, Bruno Ramos, e do vice-presidente, António José da Silva.
Aliás, a situação será de enorme polémica no seio da instituição, que já viu cinco pessoas da direção a demitirem-se.
O E24 sabe que já foram feitas várias denuncias ao DIAP, uma dela terá mesmo vindo do Conselho Fiscal da APPACDM de Braga. O Ministério Público estará mesmo a investigar para avançar com uma acusação.
O Instituto da Segurança Social já tem conhecimento do caso e mandou inclusive uma equipa do Núcleo de Investigação Criminal da Unidade de Fiscalização do Norte que já esteve nas instalações da instituição duas vezes.
Entre as várias denúncias estão “contratos duvidosos, pagamentos sem contrapartida, aumentos salariais extravagantes e transferências indevidas de fundos”.
O Conselho Fiscal da APPACDM de Braga expressou preocupação particular com os encargos salariais que, segundo estes, “não se refletem nas atividades desenvolvidas pela instituição”. Além disso, chamaram a atenção para “transferências diretas de contas da organização para a conta pessoal do presidente da direção e outras pessoas, totalizando 200 mil euros ao longo de 11 meses”.
Bruno Ramos refuta todas as acusações
“É mentira”, começa por afirmar ao E24 Bruno Ramos. O presidente da direção refere que o que está em causa é uma “guerra pelo poder”, situação esta que tem vindo a marcar o dia a dia da instituição ao longo dos últimos anos.
Bruno Ramos explica que quando tomou posse em 2022, e tendo como prova o documento do relatório de contas desse mesmo ano, a instituição já tinha problemas financeiros.
“Gestão danosa? Eu herdei uma instituição cheia de problemas. Esses 1,5 milhões são realmente verdade, mas já vinha da direção anterior”, afirma o presidente, que também nega que tenha desviado dinheiro, nomeadamente mais de 200 mil euros.
“Isso é pura mentira. Eu não desviei dinheiro nenhum para contas pessoais”, afirma, acrescentando que há pessoas a instrumentalizar pessoas. “Há uma guerra de poder, onde de um dos lados está o CESP e mais algumas pessoas. As pessoas não olham a meios”, frisa.
Aliás, Bruno Ramos refere que não é arguido de nada. Diz que não foi ouvido na PJ e nega que a Autoridade Tributária tenha entrada na instituição.
“Ao dia de hoje não fui ouvido por ninguém, não fui chamado pelo tribunal ou Ministério Público. Zero e que fique bem claro. Mas isso vai ser dito na Assembleia Geral. Confirmo que esteve na instalação uma equipa de fiscalização da Segurança Social do Porto, mas numa operação normal de rotina como fazem por todo o lado”, destacou.
Bruno Ramos refere ainda que a direção está em exercício, apesar da demissão de cinco pessoas.
“O presidente e o vice-presidente não se demitiram porque há pagamentos para fazer. Trabalhadores, fornecedores e outros, senão a instituição fechava. Temos tudo em dia”, frisou, dando nota que a própria convocatória da Assembleia Geral é ferida de ilegalidade.
“Andam aqui a brincar às convocatórias. Falam lá que querem gerir a APPACDM com uma comissão provisória de gestão. Isso não é permitido e é ilegal, pois não está nos estatutos. O que tem que haver é uma eleição. Aliás a própria Segurança Social disse isso mesmo a nós, para fazermos uma eleição para a instituição continuar a funcionar”, destacou.
“Como vão destituir uma direção que não tem quórum? Isto é uma brincadeira, mas na Assembleia vamos esclarecer”, apontou ainda
Bruno Ramos dá nota que a instituição tem dificuldades financeiras e que os acordos dificilmente conseguem cobrir as despesas.
“É um problema cíclico. Assim como as guerras de poderes na instituição ao longo dos últimos tempos. Depois são os pais, os utentes que sofrem com isto tudo”, atira ainda o presidente da direção.
“Querem tomar o poder sem um ato eleitoral”, vaticinou Bruno Ramos.
A APPACDM e a Assembleia
A APPACDM de Braga, uma instituição que atualmente abrange 187 trabalhadores, 165 utentes, oferece sete valências espalhadas por Braga, Vila Verde, Famalicão e Esposende. A comunidade aguarda ansiosamente os resultados das investigações, enquanto a sobrevivência e a reputação da instituição permanecem em jogo.
“A Assembleia Geral está marcada paras o dia 20 de janeiro, às 14h30, no complexo de Gualtar da APPACDM, localizado na Quinta do Amorim, em Gualtar – Braga. No entanto, caso haja indisponibilidade do espaço por motivos alheios à Mesa da Assembleia Geral, a reunião ocorrerá na Junta de Freguesia de Gualtar, na Rua da Bouça”, lê-se na convocatória que tem os seguintes pontos:
“Apreciação da situação financeira atual da APPACDM. Deliberar sobre a destituição do Sr. Presidente e do Vice-Presidente da Direção. Apreciar e deliberar sobre a aceitação dos pedidos de demissão de cinco membros da Direção. Deliberar sobre a necessidade de convocação de novas eleições para os órgãos sociais da APPACDM. Deliberar sobre a nomeação de uma comissão de gestão transitória da APPACDM, com poderes de gestão e representação da associação até a eleição de novos órgãos sociais. Outros assuntos”.