Quando o presidente da Câmara Municipal Esposende nos diz que as políticas de habitação pública serão apenas para a habitação social, para os mais necessitados, e que o problema da habitação apenas só vai ser resolvido pelos privados sem que Câmara desvirtue o mercado imobiliário actual, é então claro e inequívoco que a CME será um agente promotor da especulação que atualmente se vive no sector da habitação.
Sejamos claros e desculpem por me repetir pela 1000ª vez: em Esposende ganha-se menos que a média nacional e as casas são tão caras que a média nacional, o que faz com que um esposendense tenha mais dificuldades em ter uma casa do que o português médio.
É uma dedução clara, factual, indesmentível e irrefutável.
É então também claro, factual, indesmentível e irrefutável que o mercado imobiliário esposendense sofre de especulação e não é feito para os esposendenses da classe média, nem para que as famílias esposendenses na sua maioria consigam ter a sua própria habitação e é difícil de perceber como as nossas entidades camarárias querem continuar a entregar a resolução do problema da habitação aos privados.
Vamos entregar a solução da habitação aqueles que querem popular de apartamentos a preços de luxo no nosso concelho para maximização dos seus lucros?
É perceptível que pelas ideias para a habitação de Luís Montenegro, o PSD irá nesta deriva liberal e que o mercado irá regular o mercado mesmo que isso implique que os esposendenses tenham de procurar outras localidades para fazer a sua vida.
É é esta visão que e preocupante e datada, de um esforço público se resuma apenas assistencialista aos mais necessitados, perpetuando a visão de habitação pública apenas como habitação social, onde se alojam os mais necessitados, enjeitados e excluídos da sociedade.
Mas a habitação pública é já hoje outra coisa, com outros objetivos.
É uma política pública que permite a todo o acesso a uma habitação condigna e que não estigmatiza quem já mais sofre, que disponibiliza ela mesma as casas para os outros viveram, é uma política que permite a quem quer vir para cá viver consiga vir para cá viver para trabalhar ou estudar tornando os preços competitivos face a outras localidades, é uma política que corrige assimetrias e reconfigura o nosso tecido urbano, permitindo não só ter localidades vivas e com gente que faz a sua vida cá, mas ter comércio vivo, instituições vivas e no final de contas, uma comunidade viva.
Num concelho que populacionalmente cresceu com base na emigração sénior nos últimos tempos, é imperativo ter sangue novo no nosso concelho para garantir que temos futuro como comunidade.
Sabemos que o IMI é a principal fonte de receito do Município, mas não nos poderemos dar ao luxo de continuar na errada aposta de sermos um bonito concelho para turismo e de estância balnear das redondezas.
Olhando para Barcelos, Braga ou Porto (entre outros) temos Municípios que quiserem e querem disponibilizar casas de forma alargada, com diversas tipologias e com preços comportáveis para as famílias de classe média, promovendo junto das populações programas de iniciativa própria, não esperando pelo Estado Central.
Se Esposende implementasse um tal programa, não só não seria um experimentalismo e nem seria o primeiro.
Tal como já defendi neste espaço, em vez de um Parque da Cidade seria muito mais produtivo para todo o concelho a criação de uma Empresa Municipal de Habitação.
Deixem-me que seja claro, ter mais habitações para quem necessita é sempre melhor do que não as ter, é resolver um dos problemas de quem mais sofre, mas Esposende, e a comunidade esposendense, precisa de muito mais, e uma Câmara Municipal não serve apenas para garantir que os pobres tenham sempre a sopa, como diziam na minha aldeia.