A minha iniciação à crónica na comunicação social, aconteceu, algures, no Outono de 2012, por “exigência” do meu saudoso Pai, Evandro Lopes.
Sempre irrequieto, quanto a ideias e iniciativas relacionadas com Braga e o Minho, por essa altura, lançou em versão online, o Braga Semanário.
Recordo, com saudade, os contributos que fui dando para o seu projecto jornalístico, e o seu conhecido nível de ansiedade, para fechar a edição, e respectivo “pressing” aos “colaboradores”, para enviar as crónicas.
Recentemente, o Nuno Cerqueira, fez-me idêntico desafio, para publicar crónicas no órgão E24, ao qual tive o prazer e gratidão em aceitar. Reconheço, que num mundo actual, em que qualquer cidadão pode escrever sobre tudo e mais alguma coisa e rapidamente partilhar o seu conteúdo com a restante sociedade global, não se afigura fácil a missão em causa.
Assim, e para começo, irei cronicar sobre um tema que cedo me foi incutido pelo meu Pai e que se tornou um dos meus passatempos predilectos: a História de Braga. Obviamente, numa perspectiva autodidata, e nada catedrática, por forma a partilhar este prazer com os bracarenses e demais que queiram, de uma forma leve, conhecer momentos relevantes da Bracara Augusta Fidelis et Antiqua.
Admito, também, uma intenção de “picar” a actual geração política local, dos diferentes quadrantes, que fruto, de uma retrospectiva histórica, em que Braga foi significativamente lesada, se possam imbuir de um espírito de missão, e reivindicar o que é de direito das populações que os elegem, tanto para cargos de poder político local como nacional.
Ano 456: Conquista de Braga pelos Visigodos – Parte I
O território do qual Braga foi cabeça, desde pelo menos a Idade do Ferro, espalhava-se desde o actual norte de Espanha, algures entre a Galiza e a Cantábria, até à foz do Rio Douro, junto ao Porto, abrangendo ainda a actual província portuguesa de Trás-os-Montes. Apesar de terem existido inúmeras tribos, estas, teriam elementos étnicos, culturais e linguísticos em comum, ao ponto de se puder afirmar, que já cá existia uma civilização, antes do invasor romano chegar.
Em 138 a.C., Décio Júnio Bruto, foi o governador e responsável pela primeira campanha militar romana, saída de Olissipo, onde encontrou feroz resistência, por parte dos Brácaros, ao plano que trazia de Roma, para dominar o povo indígena, e explorar os recursos naturais existentes, nomeadamente, o ouro. Mais tarde, e depois de alcançado esse objetivo de conquista territorial, César Augusto, imperador romano, desde 27 a.C., até sua morte, em 14 d.C., fundou a cidade de Bracara Augusta, provavelmente no ano 16 a.C., depois das Guerras Cantábricas e da pacificação do Noroeste da Península Ibérica.
Crê-se que, o local a que hoje designamos de Alto da Cividade, fosse o epicentro de um povoado brácaro, possivelmente o mais importante de toda a região envolvente, ou que, então, fosse uma espécie de local sagrado, onde as tribos brácaras, que habitavam os montes ao redor da actual cidade de Braga, utilizassem para importantes assembleias. Seria assim uma manifestação de poder do invasor romano, perante a população nativa, ao construir a cidade romana, neste mesmo local, e com a centralidade do Fórum, bem próxima da colina sagrada da Cividade.
Seguindo a linha do tempo, em 216 d.C., o Imperador Caracala, elevou Bracara Augusta, a capital da província da Galécia e atual Braga. Caracala emitiu um édito no qual concedia a cidadania romana a todos os habitantes livres do império, com exceção dos bárbaros vencidos e reinstalados no império como colonos agrícolas. Sob Diocleciano, entre 284 e 288, uma nova reorganização se operou nas províncias hispânicas, sendo formada uma nova província, a Galécia, a partir da existente Tarraconense, com Bracara Augusta a reforçar a sua centralidade e importância enquanto Capital da Galécia. O convento bracarense, de acordo com o antigo escritor romano, Plínio, chegou a alcançar “24 cividades e 285.000 tributários”.
Algures entre 409 e 411, e devido a uma forte convulsão na Europa Central, pela invasão dos Hunos, a partir da Ásia Central, as tribos germânicas deslocaram-se em diversas direcções, tendo os Suevos, na companhia de outros povos, como os Alanos e Vândalos, entrado no território “bracarensis”.
Com o declínio do império romano, os Suevos, e após ultrapassada a desconfiança dos locais, assumiram o controlo político e militar do território, mantendo Bracara como sua capital. Só os Suevos fundaram organização política de certa duração, tendo transformado grande parte da anterior província romana, num reino, que abrangia a Galiza, mas alargando-se a sul do Douro, deixando este rio, pela primeira vez, de funcionar como fronteira política.
Ligação que pode constituir a longínqua raiz da futura nacionalidade portuguesa. O primeiro rei do “Estado Suévico-Bracarense” foi Hermenerico.
(Continua)