Esta nova vaga de aberturas de hipermercados no nosso concelho de Esposende têm de nos fazer refletir: que concelho queremos no futuro?
Sou claro, não tenho nenhum preconceito de esquerda para com os hipermercados. Admito que trouxeram a seu tempo um conjunto de boas práticas no comércio esposendense, desde o melhoramento da apresentação da loja a algumas estruturações na forma de trabalhar, e acima de tudo, permitiu pela primeira vez a alguns trabalhadores do comércio terem 10 dias úteis de férias seguidas e um empregador com avaliação de desempenho regulares.
Isso foi positivo, e não tenho problemas em o admitir.
Posto isto, esta entrada em massa de novas superfícies comerciais da grande distribuição, como recentemente foi anunciada, está longe de ser aquilo que precisamos enquanto concelho.
Esta vaga representa desde logo o fim da outrora denominada Zona Industrial de Gandra (Z.I.G).
A Z.I.G era uma das esperanças de fazer nascer um casco industrial/produtivo mas nos últimos anos têm-se transformado numa zona comercial e de serviços e o seu nascimento deste Retail Park pode ser a inversão definitiva no seu papel.
As indústrias precisam de espaço, estar perto das grandes vias de comunicação, afastados as populações e das zonas ambientais mais sensíveis, e a Z.I.G era das poucas que reunia todas essas condições no Concelho de Esposende e o desaparecimento desta área industrial útil torna mais complicado uma implementação de uma unidade fabril no futuro próximo em termos tão simples como “onde é que a podemos instalar?”.
E isso leva à pergunta seguinte, onde poderemos colocar essas instalações? No Monte de Faro? Em Vila Chã? Encostadas ao Canal Intercetor? Não são localizações com a mesma atratividade que a Z.I.G. Neste lote apenas consigo descortinar uma zona entre Fão e Apúlia com as mesmas características.
Depois, temos de pensar que tipo de emprego estamos a criar em Esposende.
Não contradigo que uma grande superfície dá trabalho a um razoável número de pessoas, mas não consegue ser tão efetivo e transversal na oferta de postos de trabalho como a indústria produtiva.
Com a indústria produtiva conseguimos criar mais emprego para um maior número de escolaridades, do ensino obrigatório à universidade, conseguimos criar um conhecimento técnico e profissional na população que poderá alimentar através da mudança de local de trabalho empresas concorrentes ou empresas da mesma área e até permite dar as ferramentas a quem integra as empresas que criem a sua própria empresa, tornando-se concorrentes ou prestadores de serviços, aumentando assim o tecido industrial e produtivo e empresarial do concelho.
Aliar o crescimento do emprego a este tipo de postos de trabalho com os postos de trabalho criados pelo turismo é um cocktail de empregos maioritariamente de qualificações técnicas, que fixam no concelho uma franja concreta da nossa população, não tornando Esposende tão atrativa para quem cá nasceu e cresceu e se quer cá manter.
Depois, temos de pensar que tipo de redistribuição local estamos a criar.
Como vemos muitas vezes as grandes superfícies gostam de publicitar que compram local, mas dificilmente compram na comunidade, tornando difícil a circularidade da economia local enquanto agentes da economia local. Fornecedores definidos a nível nacional, prestadores de serviços regionalizados e contratualizados em grupo, torna claramente complicado, apenas limitado a alguns produtos, que as verbas recebidas decorrentes das vendas sejam reinjetadas no tecido empresarial local.
E finalmente, a sobrevivência do comércio local de Esposende.
Num concelho que conta com 30.000 pessoas em residência permanente, temos uma concentração estimada de cerca de 10 espaços comerciais da grande distribuição, o que dá a média de 1 espaço por cada 3.000 habitantes.
Serei sincero, não sei como é que o comércio local vai sobreviver a isto.
Teria sido então necessário, em paralelo a este anúncio, apresentar um plano de revitalização e renovação do comércio local por parte das diversas forças vivas do concelho.
Precisamos claramente em Esposende de um plano de revigoração e rejuvenescimento do comércio local, desde os espaços à sua divulgação, que permita uma resposta efetiva a estes novos concorrentes.
Não consigo deixar de passar em claro que existe por parte das nossas entidades locais uma certa deriva liberal, um entusiasmo, pela abertura destes espaços em Esposende, deixando porventura os nossos comerciantes locais entregues ao “mercado”.
Mas algo me diz que o “mercado” não os tratará bem.