Com eleições autárquicas a caminho e, quem sabe, legislativas pelo meio, o tema das coligações começa a aparecer paulatinamente na comunicação social – e é aqui que se impõe o título deste artigo: Prognósticos sobre coligações eleitorais? Só no fim.
Há prós e contras e há linhas vermelhas e linhas verdes. Há partidos que não o fazem por princípio e outros que, em princípio, fazem tudo para ter lugar garantido.
Há quem as faça antes das eleições e quem as defenda depois de contados os votos. Cada cabeça, sua sentença. No que se segue, exponho a minha.
O caso
Acredito que os períodos que antecedem as eleições devem ser aproveitados para a troca de ideias de modo a clarificar os eleitores.
A comunicação social tem um grande papel nesse contexto, mas cabe aos partidos tentar guiar a narrativa de modo a que as suas ideias passem.
A história recente tem-nos mostrado que as eleições não se ganham, perdem-se. No final do dia das eleições, tanto ou mais do que os vencedores, discutem-se os vencidos, o que correu mal, onde falharam, porque é que a sua mensagem não passou.
Talvez seja uma característica dos Portugueses, talvez da natureza humana, mas identificar as falhas do vencido aparenta ser mais interessante que reconhecer o mérito do adversário.
Uma das questões que vem sempre à baila nesses debates, é o exercício,intelectualmente pouco honesto, do “se tivesse ido coligado”, como se os resultados já apurados fossem os mesmos nesse cenário.
Coligar ou não coligar, eis a questão
No caso dos atos eleitorais, em que pretendemos que cada um seja livre para decidir o que quer, podemos encarar as coligações pré-eleitorais como um condicionamento a essa liberdade, pois limitam a escolha.
A escolha será sempre um compromisso. Muitas vezes votamos no menos mau, outras vezes votamos útil. Mas deixemos que a “mão invisível” guie o sentido global do voto e façamos as contas no final.
No final, com o peso que os eleitores decidirem dar a cada opção que tinham no boletim de voto, definam-se as linhas de entendimento e as linhas vermelhas. Se isso passar por coligações pós-eleitorais, cada um deve avaliar os prós e os contras de o fazer.
Recentemente, as eleições na Alemanha são um exemplo em que as potenciais coligações estão a ser definidas depois de apurados os resultados. Mas também em Portugal, a geringonça é um exemplo que nos mostrou que é possível fazer coligações depois de contados os votos.
No caso Alemão, há tradição neste tipo de coligações. No caso Português, nem tanto, e há até quem defenda que, em parte, o declínio dos partidos à esquerda do PS foi acelerado pelo “cadastro” da geringonça.
O prognóstico
Tal como prometido no título do texto, no fim vem o meu prognóstico.
Enquanto não houver uma renovação na forma de ver e pensar a política em Portugal, o conceito de coligação funciona para as partes envolvidas como cadastro quando deveria funcionar como currículo. E essa renovação está provavelmente associada a uma mudança geracional.
Isso ocorre devido ao baixo nível de literacia e maturidade democrática em Portugal, uma vez que seguimos alógica do “são todos iguais” em vez do “estes são capazes de compromissos”.
Temos de fazer o trabalho de casa. Trabalhar e apresentar as ideias. Informar as pessoas. A seu tempo, iremos ver as coligações como compromissos. Mais um de entre os muitos que temos de fazer no nosso dia-a-dia.
Até lá, prognósticos sobre coligações eleitorais, só no fim… da contagem dos votos.