Anda muita gente irritada com o fim das portagens nas Ex-SCUT’s.
A silenciosa maioria dos portugueses passará uma vida inteira sem nunca sentir os efeitos da greve do Metro ou dos comboios suburbanos ou dos autocarros pendulares ou ainda dos cacilheiros do Tejo.
É um facto estatístico irrefutável, pela simples e poderosa razão de que esta silenciosa maioria no seu dia-a-dia só têm o automóvel como recurso, e as estradas como caminho.
Então porque tantos se levantaram pela abolição das portagens nas ex-SCUT’s? Sinceramente, tenho dificuldades em responder de forma concreta.
Senão vejamos…
Em primeiro lugar, parte das ex-SCUT’s foram transformadas em autoestradas na secretaria, de forma burocrática, para poderem ser taxadas como autoestradas.
A A28 nasceu como IC1 porque entre outras coisas não cumpria os requisitos legais de construção tais como inclinações máximas, raios de curva da estrada, escapatórias, áreas de serviço, número de nós de acesso no trajecto e inexistência de zonas que não permitam a velocidade máxima de 120 km/h, em linha com o que se passou com IP5 transformado em A25 depois de algumas melhorias no trajecto.
Basta comparar a atual A28 com a A11, ou com a A3, para percebermos a diferença.
Em segundo lugar, o fator de coesão nacional.
Um trabalhador médio de Esposende, que ganha em média 1064€/mês, mas paga a mesma carga fiscal pelo seu carro que um trabalhador médio do Porto, que ganha em médias quase mais 500€/mês, que têm à sua porta autocarro pendular, autocarro expresso, metro e comboio suburbano.
Ou seja, o esposendense paga a mesma carga fiscal pelo seu carro e ainda paga através dos seus impostos parte dos custos das estruturas do Metro do Porto, da STCP, da CP de que os habitantes do Porto na sua esmagadora maioria podem usufruir, e se estes forem moradores da Foz do Douro ainda têm ruas onde o estacionamento é proibido a não-residentes das respetivas ruas, sendo que apenas alguns esposendenses usam essas infraestruturas.
Se não tivéssemos a isenção das portagens nas ex-SCUT’s, teríamos então uma dupla tributação, claramente danosa para quem não mora nas metrópoles, em zonas que em média o vencimento é mentos.
Então, esta abolição é uma desejável diferenciação positiva para com quem o Estado Central e Local não lhe dá uma opção viável ao seu automóvel.
Em terceiro lugar, e esta é para alguns críticos da nossa Direita, a coesão nacional serviu como motivo para que Luís Montenegro se gabasse que a tarifa aérea máxima prevista no subsídio social de mobilidade para as ligações entre os Açores, Madeira e Portugal Continental continue, e até baixe, de preço , também paga em parte por todos os portugueses, não sendo expectável tanta reação negativa nas hostes PSD/CDS.
Não me entendam mal, sou totalmente a favor que os meus impostos sirvam para que os habitantes da Ilha do Corvo, ou de Porto Santo, não precisem de despender 900€ para irem a casa no Natal a partir do Continente, ou mais de 300€ quando têm de vir a obrigações educacionais ou a tratamento médicos durante o resto do ano.
Mais do que coesão nacional, chama-se solidariedade nacional!
Então, a noção de utilizador-pagador que alguns tanto apregoam fica distorcida e até inviabilizada, porque se formos a medir o que é que cada um paga em relação ao que não usufrui, sem grandes distanciamentos de análise, as populações abrangidas pelas ex-SCUT’s seriam muito menos pagadoras e mais usufruídoras.
Se alguns parecem preocupados com quem paga o que os utilizadores das ex-SCUT’s não pagam, pode essa corrente de pensamento defender, por exemplo, um agravamento de taxas em sede de IUC e de taxas de combustíveis nos espaços das grandes cidades, ou então, propor um IMI de lugar de estacionamento para quem mora dentro dos cascos urbanos das grandes cidades sempre indexado à presença de transportes públicos alternativos na proximidade.
Fico a aguardar ansiosamente por quem vá defender essa proposta a Lisboa ou Porto.
Em resumo, não nos podemos deixar levianamente levar pela corrente de pensamento de que o “o automóvel é sempre mau” porque o carro, para muitos nos dias de hoje, não é um apenas um transporte, é uma peça fulcral que tenham vida, como tal, o automóvel precisam de estradas, e de preferência rápidas, para andar sendo elas também vitais para quem muitos portugueses tenham uma vida.
E desconhecer isto é desconhecer o que é o Portugal real e qual o ganho de qualidade de vida que a abolição destas portagens traz a muitos portugueses e essa irritação não é mais do que puro desconhecimento do que é o país real.