A Universidade do Minho celebrou 50 anos de existência em 2013. Porém, Braga, já poderia ter celebrado 500 anos de uma instituição semelhante, não tivesse essa ambição sido derrubada pela liderança política do País.
Numa visita à Torre de Santiago, há algum tempo, e aproveitando a vista privilegiada para o Largo de S. Paulo, e para o Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, veio à memória o desígnio do Arcebispo D. Diogo de Sousa, de criar neste local, em 1509, uma instituição dedicada aos Estudos Públicos, leia-se, uma Universidade.
D. Diogo de Sousa, era uma mente iluminada para a sua época, pois viveu, estudou e trabalhou fora de Portugal, tendo realizado périplos políticos e culturais, por universidades estrangeiras, percebendo o impacto que tais instituições tinham nas sociedades onde se inseriam, e o progresso do qual beneficiavam, em plena época do Renascimento.
Assim, não foi de estranhar a sua visão, de estabelecer três grandes polos de ensino em Portugal. Além do já estabelecido eixo Coimbra-Lisboa (Centro), haveria que instalar Estudos Gerais em Braga (Norte) e Évora (Sul). Deste modo, ao fim de alguns anos, evitar-se-ia o envio de bolseiros a universidades estrangeiras, uma vez que teriam oferta formativa ao dispor nas diferentes regiões do país.
Porém, devido a discórdias com Roma, Braga não recebeu instruções para a criação dos Estudos Gerais, mas viu, Guimarães, adiantar-se nesta matéria, com o estabelecimento do Colégio na cidade vizinha, em 1512.
Se o Rei D. Manuel I, pareceu interessado pela causa do iluminado Arcebispo, já o seu sucessor, a partir de 1521, D. João III, passou por cima dessa intenção, continuando a solicitar apoio financeiro e o envio de colegiais para a Universidade de Paris, em vez de dar ordem definitiva para fundação de uma Universidade em Braga.
Apesar disso, o Colégio, em Braga, virado para as Artes e Teologia, já estava em funcionamento, desde a primeira metade de 1532, ou seja, 23 anos (!) depois de idealizado por D. Diogo de Sousa, mas, ainda antes do decreto régio relativo à transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra (1537), o que é revelador da ambição do grande Arcebispo de Braga, em tornar a colocar a Cidade Primaz numa posição cimeira na História.
Infelizmente, D. Diogo de Sousa, faleceu em Junho de 1532, pelo que não teve possibilidade de prosseguir esta importante empreitada, ao contrário de muitas outras, que levou a efeito em Braga, resultando numa enorme transformação da cidade.
O Infante D. Henrique, irmão do Rei D. João III, viria a suceder a D. Diogo de Sousa, em 1533, mas nem ele conseguiu alcançar o desígnio de instalar uma Universidade em Braga. Aliás, com o falecimento do iluminado prelado, o Colégio entrou em decadência, pois o património de D. Diogo de Sousa, bem como a tutela da instituição, ficaram em posse real, que deixou “congelar” a actividade. Só alguns anos depois, D. Henrique, irá revitalizar o Colégio, com uma série de medidas, incluindo o estabelecimento de Estatutos, e a adopção de novas disciplinas como Gramática, Poética, Retórica, Lógica e Filosofia.
Curiosamente, o Infante D. Henrique, deixaria de exercer funções de Arcebispo de Braga, em 1540, transferindo-se para Évora, também na condição de Arcebispo, tendo ascendido a Cardeal em 1547. Com este poder, em 1559, e também com a sua influência, junto do Rei D. Sebastião, seu sobrinho-neto, do qual viria a ser regente, fundou uma Universidade, não em Braga, mas em…Évora! D. João III também foi impedindo tal concretização em vida alegando a dispersão de recursos…
Também Coimbra, através do seu trabalho nos bastidores, junto da corte em Lisboa, contribuiu para a inviabilização do projecto universitário para Braga, e, em 1537, viu mesmo a Universidade ser transferida definitivamente de Lisboa, para o seu burgo, por ordem do rei D. João III.
Após novo período de decadência, será no prelado de S. Bartolomeu dos Mártires, que a situação do ensino em Braga, será mitigada, quando, a partir de 1560, a Companhia de Jesus assumiu os destinos do Colégio de S. Paulo, naquele que foi um período de ouro, do ensino em Braga, em que cerca de 3.000 alunos, chegaram a frequentar o Colégio, até que, em 1759, a mando do Marquês de Pombal, os jesuítas foram expulsos de Portugal.