Um grupo de arquitetos reuniu-se na sede da Ordem dos Arquitetos, no Porto, para discutir o impacto da operação urbanística de Nun’ Álvares, que está longe de ser pacífica junto da população daquela zona da cidade. Contestação vai avançar.
A construção de três torres com 25 andares e atingir 100 metros da altura não foi vista como um problema pelos arquitetos, com críticas à “baixa densidade” das edificações propostas e ao perfil da nova via.
A consulta pública sobre o plano para a Avenida Nun’ Álvares atraiu 1.306 participações, refletindo a preocupação da comunidade. E até já levantou suspeita à PGR que investiga o projeto.
O empreendimento abrange uma área de 26 hectares, onde estão previstas a construção de edifícios, áreas verdes e praças, ligando a Praça do Império à avenida da Boavista.
Fernando Brandão Alves, arquiteto presente no encontro com cerca de 50 pessoas, reconheceu as preocupações em torno da construção em altura, mas defendeu que tal estrutura pode ser tanto positiva quanto negativa.
Ele citou exemplos como a Torre do Foco e o Hotel Dom Henrique, que trazem uma contribuição estética à cidade.
O arquiteto paisagista Paulo Farinha Marques também não se mostrou alarmado com as torres.
“A silhueta urbana da região não é atraente”, considerando-a “uma zona balnear”.
Ele destacou a importância “do avanço nas áreas verdes“, com a inclusão de “dois parques ao longo das ribeiras”. No entanto, expressou “preocupação com a densidade das edificações”, que é inferior à média da cidade, argumentando que “essa baixa densidade beneficia um grupo socioeconómico mais afluente”.
Luís Soares Carneiro, outro arquiteto, lamentou que “a densidade tenha uma conotação negativa“, enfatizando que “ela é fundamental para a vida urbana”, pois “reduz a necessidade de deslocamentos e otimiza as redes de transporte”.
Por sua vez, Tomás Allen, especialista em mobilidade, criticou “o perfil da avenida”, sugerindo que “os passeios deveriam ser mais largos”.
Tomás ressaltou “a necessidade de um transporte público eficiente” que possa atender aos cinco mil novos habitantes previstos na área e sua possível conexão à linha do metrobus.
Mas há contestação ao projeto das “torres”
Antes dos arquitetos “validarem” o projeto, um grupo de moradores havia estado reunido na passada quarta-feira, em sessão privada, para debater o polémico projeto da futura Avenida Nun’Álvares.
A construção de três torres com cerca de 100 metros não é o desejado. A proposta, aprovada pela Câmara do Porto, tem gerado preocupações quanto ao impacto urbanístico, ambiental e social.
Miguel Aroso, porta-voz do movimento cívico contra o projeto, considera que a iniciativa está “desenquadrada da envolvente” e lamenta a ausência de diálogo com a população.
“A democracia deve fazer-se dos cidadãos para os políticos”, afirmou então ao Porto Canal.
O residente denuncia ainda uma rutura com a proposta inicial, que previa edifícios mais baixos, mais espaços verdes e melhor articulação com a nova linha de metro entre a Praça do Império e a Boavista.
“Como vai o metrobus escoar mais 5 mil pessoas nesta zona?”, questionou, alertando também para a pressão nos serviços públicos.
Helena Pinheiro Torres, também moradora, classificou o projeto como uma “aberração” e teme a descaracterização da zona.
“É uma coisa horrível para quem vive aqui desde sempre”, afirmou.
A nova avenida terá 1,5 km e incluirá habitação, comércio, serviços e espaços verdes.