As caminhadas estão na moda, e ainda bem, e são cada vez mais procuradas porque permitem aproximação ao mundo natural e, em alguns casos, a aquisição de conhecimentos sobre os espaços naturais percorridos através de percursos interpretativos. Esta versão das caminhadas que vão mais além do que calcorrear quilómetros, são cada vez mais procuradas!
Entre Fão e Apúlia existem ainda alguns pequenos núcleos da primitiva floresta de folhosas e, claro, ainda algum pinhal.

Estes espaços são cortados por caminhos por enquanto agrícolas e estão na sua grande maioria dentro dos limites do Parque Natural do Litoral Norte. São áreas de grande riqueza em termos de biodiversidade, mas que correm grande perigo de desaparecerem e as causas principais são:
1 – O que parecem ser já tentativas de transformar os caminhos agrícolas em avenidas;
2 – Os pesticidas e outros venenos agrícolas que são abandonados;
3 – A caça furtiva e os venenos que são propositadamente colocados na floresta;
4 – O perigo de incêndio que só por milagre ainda não aconteceu;
5 – A invasão das Acácias, aqui conhecidas vulgarmente por “Austrálias,” e este é, do meu ponto de vista, o grande desastre ecológico que está a acontecer nesta e noutras áreas do PNLN!
Nesta parte do Parque há zonas que já são impenetráveis! Há caminhos onde já não se passa! Há perdas de biodiversidade preocupantes nos locais invadidos! Há um desastre a acontecer! Há uma inércia assustadora, preocupante! Não são umas acções organizadas uma ou duas vezes por ano, por muita boa vontade e voluntarismo que hajam, que resolvem a situação! É preciso muito mais e mesmo assim nada estará garantido.

E, se não se levar a sério este problema, a catástrofe está aí à porta.
Esta área que refiro, tem todas as condições para se fazerem percursos interpretativos muito interessantes: com sinalética, com informação escrita sobre as espécies animais e vegetais existentes ao longo dos percursos, assinalar os pontos onde se podem observar espécies animais, com pontos de descanso e até como já vi noutros países, nomeadamente mesmo aqui ao lado em Espanha, no meio de um percurso numa floresta surge, do nada, um parque com aparelhos de manutenção física!
É uma questão de envolver as entidades certas, oficiais e ONG’s, os proprietários dos terrenos, os voluntários que já fazem de vez em quando algumas acções de erradicação… É uma questão, sim, de recursos necessários, mas também muito de vontade, de querer, de se perceber que também é possível atrair turismo que se quer sustentável…É uma questão de não cair na tentação de se aproveitar a destruição da floresta pelas invasoras para, sei lá, em última estância, até se desafectarem os terrenos ao PNLN! Sei lá…
Não se pode permitir, é quase criminoso, que em locais onde ainda não proliferam as “Austrálias”, não se intervenha imediatamente ao surgimento dos primeiros rebentos, permitindo-se que em meia dúzia de meses mais um pedaço de área protegida se transforme em mais um pedaço de área morta!
Bem sei que parece uma utopia a erradicação total das invasoras, o exemplo nacional não é animador: uma política florestal muitas vezes pensada unicamente em termos económicos, contestada por grandes especialistas Portugueses, pelas ONG’s, com exemplos que nos envergonham do abandono das florestas que pertencem ao Estado e que são unicamente 2% de toda a área florestal Portuguesa, com o triste exemplo do estado em que se encontram milhares de hectares que arderam há 2 anos e que agora, por via das exóticas que não foram erradicadas depois dos incêndios, transformaram esses hectares em pólvora…

Mas, com imaginação, com uma boa colaboração entre entidades, proprietários, ONG’, empresas, há com certeza formas de minimizar o problema, de dar algum rendimento aos proprietários, de trazer gente que deixa dinheiro e não deixa lixo; o Parque Natural do Litoral Norte e outras áreas naturais do Concelho merecem!Haja vontade.