A comunicação social é hoje um dos maiores índices da vitalidade de uma comunidade local.
É uma equação simples de se fazer, uma comunidade viva produz notícias, que por sua vez são lidas e consumidas por essa comunidade gerando receitas para os meios de comunicação através de vendas e receitas de publicidade que conseguem angariar.
No concelho de Esposende, os desafios e dificuldades da nossa comunicação social local é um dos sinais claros que nos últimos 30 anos, a comunidade em si têm perdido a sua vitalidade.
Por volta de 1994 nos 93.2MHZ da Rádio Esposende discutia-se num programa de debate com alguma mágoa, e um orgulho bairrista ferido, o facto de não existir um jornal diário impresso em Esposende dedicado em exclusivo à atualidade local, a ser impresso e editado à Rádio Esposende.
Olhando para a realidade de hoje, uma rádio e um jornal impresso diário parece que estamos a falar de um outro concelho, de uma outra realidade, quase de um outro planeta.
Então, uma vez mais, voltemos à queda da Rádio Esposende.
A queda e desaparecimento da Rádio Esposende foi ele próprio um sinal de que a realidade socioeconómica do concelho tinha mudado, tinha-se deteriorado e sofria um abandono, já que quando o principal órgão de comunicação social do concelho, uma das colunas vertebrais da comunidade esposendense, não encontrou as soluções financeiras para manter as portas abertas é porque factualmente algo se perdeu.
No mesmo sentido, e volvidas já décadas, não deixa de ser marcante e sintomático que nestes últimos anos o único jornal que surgiu e que se manteve constante e de maior tiragem continua a ser o Boletim Municipal editado pela Câmara Municipal de Esposende, e não o digo em tom de crítica à CME ter um boletim informativo, é o que se passa na esmagadora maioria dos concelhos em Portugal, porque nem todos temos redes sociais.
Mas hoje continuamos com o mesmo problema.
Os órgãos de comunicação locais com produção própria e diária, como os diários online (o E24 como exemplo ou a Esposende Serviços)são forçados muitas vezes a derivarem o seu foco noticioso para uma atualidade regional (Barcelos, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim) para manter um caudal informativo capaz de alimentar a sua produção diária, e acima de tudo, terem leitores em suficiente número que permitam também trazer patrocínios para manter a atividade rentável. Também os jornais semanais de âmbito concelhio ( Farol de Esposende e NSemanario) sentem esta dificuldade em ter frescas notícias para imprimir.
E numa realidade comunicacional onde cada vez mais não se vende um produto completo, um jornal completo, mas sim uma notícia isoladamente, ou um vídeo com a notícia, ou seja, onde se mede a divulgação, audiência e aceitação pelo click e pela visualização, a existência de matérias frescas, novas notícias e atualizações das mesmas, torna-se vital para a sobrevivência de todos os órgãos.´
Também desta vitalidade e deste consumo influencia a capacidade destes órgãos reforçarem as suas redações, com mais profissionais e com mais profissionalismo, produzindo mais e melhor, tornando o seu produto final mais apetecível.
Será então claro que para termos uma comunicação social viva temos de ter também uma comunidade viva, comunicativa, com instituições das mais diversas áreas que comuniquem e se queiram fazer ouvir e informar todos que estão à sua volta e que também entendam que esta relação entre instituições-comunicação-comunidade não é opcional mas terá de ser quase mandatória porque é com a comunicação que nos mostramos vivos, sendo um negócio onde todos ganham, logo é um bom negócio.
Um programa cultural, ou de eventos culturais, mais reforçado também seria bom para a nossa comunicação social local já que com um fluxo constante de artistas e personalidades com profundidade artística conseguem mais e melhor material para ser publicado, consegue chegar a mais franjas da sociedade e consegue chegar mais longe, para lá das fronteiras do nosso concelho.
Mas fundamentalmente, mais população ativa e residente no concelho.
Continuar fixados que uma população de 30 mil pessoas são suficientes para este concelho é uma ideia datada e ultrapassada. Temos de ter mais gente, mais vida, mais ideias, mais atividade, uma comunidade que seja maior e que se faça realmente a sua vida neste concelho e que assim crie e consuma as suas próprias notícias.
Continuar a querer ser um concelho pequeno e calmo à beira-mar plantado é querer manter uma comunidade, e uma comunicação social, pequena e calma.