A pergunta fundamental: O que queremos da TAP?
Que portugueses queremos que ela sirva? Que passageiros queremos que ela nos traga? Querermos ver as despesas dela como custo ou como investimento?
Apresento a minha visão de contribuinte, um periódico viajante e de longe de ser expert em aviação comercial e alguém que gosta da TAP: uma companhia com participação pública de carácter internacional, ligada às capitais da Europa e dos PALOP e às regiões de elevada diáspora portuguesa, e de vôos intercontinentais que sirvam de ponte cultural e comercial aos destinos que sejam de interesse nacional e que deixe a competição do preço para as low-cost.
A British-Airways/Iberia são a opção mais barata para se chegar ao Reino Unido e Espanha quando comparadas com a Easyjet e a Vueling? Não, mas também não é por isso que deixaram de voar. O mercado low-cost é volátil, muito afecto ao preço, e para vôos de curta duração. Um pequeno exemplo nacional disto: em 2015 a Ryanair colocou o vôo Porto-Lisboa a começar nos 12,5€, criando inclusive em alguns a vontade de encerrar o serviço de comboio Alfa Pendular Porto-Lisboa, para o terminar cerca de três anos depois anos depois devido à baixa procura. Ainda hoje a maior parte dos passageiros que chegam a Portugal chegam em vôos não-low-cost e isso têm uma explicação: estabilidade na oferta e no preço.
Garantir um número de ligações aéreas às zonas de elevada presença da diáspora portuguesa e garantir que dos 5 continentes se tenha uma vôo que chegue a Portugal de forma directa, rápida e mais económica é o que procuramos dentro de uma companhia aérea de referência e nos tempos que correm, é complicado explicar que a TAP não tenha uma ligação directa à Ásia (China e Macau seria elementar), ao México e que a sua oferta na América do Sul esteja apenas no Brasil e Venezuela.
Falemos então da sua propriedade
Não me choca que o Estado Português não tenha 100% do capital, concedo que até possamos usar o método de “golden-share” termos um outro parceiro estratégico, mas que seja verdadeiramente um parceiro estratégico, ou dito de outra forma, não quero mais uma privatização Passos-Portas a um qualquer Davide Neeleman desta vida feita a poucos dias do Governo sair de funções.
Quero uma TAP que dê lucros, não tenham dúvidas, mas é claro que alguns destinos não vão dar lucro, vão ser pontes e caminhos para outros pessoas com Portugal.
Vamos deixar os nossos emigrantes nos Estados Unidos da América,Canadá, França, Angola, entre outros, entregues à volatilidade dos mercados? É com gosto que sentirei que os meus impostos servirão para quem procurou melhor vida lá fora regresse à sua terra.
Alguns defendem o seu encerramento por completo. Olhando para o caso da Hungria, que encerrou a sua companhia e entregou toda a operação uma low-cost, não podemos dizer que o país tenha ficado melhor servido e se tenha tornado uma referência na logística de pessoas e bens. E deixem-me dar mais uma estatística: dos 193 países no mundo, 184 têm uma participação pública, total ou parcial, na sua companhia aérea.
95% do Mundo não pode estar tão errado assim
Atendendo aos possíveis parceiros que estão sentados à mesa, sou de forte crença que a TAP privada não corresponderá às expectativas de alguns dos habituais críticos da relação entre TAP e o Porto.
Olhando para a forma como Lufthansa, KLM, Airfrance, British Airways tratam os segundos aeroportos dos seus países de origem é de prever que a política de qualquer um destes parceiros será a de eliminar grande parte dos vôos internacionais a partir do Porto, reforçar a ligação a Lisboa e a partir dai servir para todos os destinos.
Lyon têm uma ligação internacional da AirFrance, em Manchester a BritishAirways têm 3 ligações e em Eindhoven a KLM, pasme-se, não têm um único vôo a sair daquele aeroporto, o que nos dá claros sinais de que o futuro com qualquer um destes parceiros a movimentação aérea portuense passará em muito por Lisboa
Mais haveria para escrever sobre este tema, sobre esta empresa que cria discussões dignas dos dérbies futebolísticos, mas teremos mais oportunidades para o fazer num futuro próximo com certeza.