As eleições antecipadas estão aí.
Foram convocadas sem ninguém as pedir, por motivos que ninguém quer esclarecer, com implicações diretas nos próximos atos eleitorais que só agora conseguiremos descortinar.
Um dos primeiros impactos será a necessária agregação de temas regionais e locais aos nacionais. Numa campanha rápida como esta terá de ser, as ideias e os projectos das estruturas locais serão de capital importância para a construção dos programas eleitorais, sabendo de antemão que a atenção mediática estará centrada principalmente em 3 ou 4 temas do dia-a-dia dos portugueses e estaremos ainda com os ecos dos problemas de Montenegro e de tudo o mais que irá surgir no seio do Chega e que serão estes os temas que motivarão os portugueses a ir votar no dia 18 de Maio.
Suspeito que esta aglomeração de diferentes dimensões e a exposição que vai existir irá ser aproveitada por muitas estruturas locais como uma espécie de pré-campanha para as autárquicas.
Depois, teremos os impactos derivado dos problemas de Montenegro.
Não nos podemos esquecer, o caminho que nos trouxe até aqui começou com a discussão da Lei dos Solos, um ato de responsabilização dos municípios, que evoluiu para os recebimentos da empresa de Montenegro, passando pelos processos de adjudicações de diversos autarcas laranjas ao gabinete de advogados onde ele exercia, e estes casos ligados ao poder local vai só não provocar nuvens de dúvidas sobre uma parte destes procedimentos como também sobre as formas de conduta com tudo o que tenha a haver com Montenegro, ou com outro membro de governo.
Um outro impacto será a reorganização partidária pós-eleitoral.
Num cenário onde Montenegro atirou o país para eleições antecipadas com a sua Moção de Confiança, Pedro Nuno Santos sedento da sua primeira vitória clara numa eleição nacional, o Bloco de Esquerda a ter uma Convenção Nacional para a sua Coordenação Nacional no pós-eleições e o Chega a ter a enésima Convenção para regularizar a sua situação, é natural dizer que a continuidade das lideranças estará umbilicalmente ligadas aos resultados do dia 18 de Maio e aquelas que seguem para um para novo processo eleitoral condicionará a escolha dos candidatos autárquicos que ainda estejam pendentes, como a constituição das listas, decorrente do que será uma nova correlação de forças do momento e dos movimentos internos que surjam. Também teremos a situação de que quem ganhe fique com alguns dos possíveis candidatos nas funções governativas, obrigando em alguns casos a reformulações nas listas.
Depois, as possíveis coligações pós-eleitorais.
Teremos uma Assembleia da República fragmentada, segundo as sondagens, fazendo-a governável apenas com coligações alargadas, e esse movimento de confluência que se definirá em Maio será claramente um impeto para que novos entendimentos surjam também para as autárquicas.
Conhecendo a dinâmica partidária, esse trabalho de coligação será feito inicialmente em Lisboa, para depois ser reproduzido pelo resto do país, quer à Esquerda quer à Direita, provocando uma redefinição no xadrez político de muitos concelhos e possivelmente brotar em muitos deles momentos históricas de coligações na vida política local, Caso Montenegro perca, e seja substituído por Passos Coelho, prevejo que surjam em muitos concelhos o protótipo de uma “AD alargada”, com a inclusão de PSD, CDS, IL e Chega, a concorrerem em coligação em alguns dos concelhos.
E no fim, as dinâmicas de vitória e derrota.
Numa campanha que se mescla entre Legislativas e Autárquicas, teremos certamente a contaminação da dinâmica de vitória, e de derrota, nas campanhas autárquicas, em especial nas maiores cidades, onde temos sempre maiores variações da votação.