Um estudo recente conduzido pelo Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI), divulgado esta quinta-feira, revela que cerca de 30% dos médicos internos das Unidades Locais de Saúde (ULS) de Braga e Barcelos/Esposende não voltariam a optar pela profissão de Medicina.
Embora estes números sejam ligeiramente melhores do que a média nacional, que ultrapassa os 35%, refletem uma preocupação crescente entre os jovens médicos no que toca à qualidade de vida e condições de trabalho.
Satisfação com a Especialidade e Desafios da Profissão
Os dados mostram que, apesar de a maioria dos médicos internos destas instituições manifestar satisfação com a especialidade que escolheram, muitos expressam frustração em relação à profissão em geral.
Entre os motivos apontados para este desencanto estão a dificuldade em equilibrar a vida profissional e pessoal, a falta de tempo para estudo durante o horário laboral e as condições de trabalho.
Na ULS de Braga, 68,25% dos internos afirmaram que voltariam a ingressar no curso de Medicina, enquanto em Barcelos/Esposende esse número sobe para 70%.
Estes valores estão acima da média nacional, que se situa em 65%, mas ainda assim deixam margem para reflexão. No que respeita à escolha da mesma especialidade, os índices também são elevados: 77,5% em Barcelos e 78,25% em Braga, ligeiramente abaixo da média nacional de 79%.
Desequilíbrios e perspetivas
José Durão, presidente do CNMI, destaca que os resultados do inquérito refletem os “desabafos” de muitos médicos jovens que enfrentam uma realidade profissional que não corresponde às expectativas iniciais.
Segundo José Durão, muitos começam a sua carreira com a esperança de alcançar um equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas acabam por enfrentar exigências laborais intensas e uma formação teórica insuficiente.
“O que estes médicos encontram é uma falta de equilíbrio entre o trabalho e a formação, o que resulta em insatisfação e na sensação de que poderiam alcançar mais satisfação pessoal noutras áreas”, explicou o dirigente.
Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal
Um dado positivo no estudo aponta para o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, onde os internos das ULS de Braga e Barcelos superam a média nacional.
Na ULS de Braga, 62,5% dos profissionais consideram o equilíbrio satisfatório, enquanto na ULS de Barcelos/Esposende este índice sobe para 65%. Estes valores contrastam com os 59,25% registados a nível nacional.
Três Eixos de Intervenção
Para melhorar a satisfação dos médicos internos e inverter esta tendência de insatisfação, José Durão defende a necessidade de trabalhar em três eixos principais:
1. Tempo – Garantir que os médicos tenham momentos dedicados exclusivamente à formação teórica.
2. Espaço – Investir em melhores condições de trabalho e infraestruturas adequadas.
3. Pessoas – Promover o bem-estar dos profissionais, combatendo situações de *burnout*.
A implementação destas medidas é considerada essencial para assegurar que a profissão de médico se torne mais atrativa e sustentável a longo prazo.
O que concluir?
Apesar de os resultados do estudo revelarem que as ULS de Braga e Barcelos apresentam indicadores ligeiramente superiores à média nacional, os desafios enfrentados pelos médicos internos demonstram a necessidade urgente de intervenções estruturais.
Apenas com melhores condições será possível garantir que a Medicina continue a ser uma escolha profissional valorizada.