A sobranceria com que Jerónimo de Sousa reagiu é comum à generalidade da Esquerda partidária, que se arroga como dona do 25 de Abril e nunca vê com bons olhos que alguém da dita “Direita” possa também festejar esta data importante como sua.
É um facto histórico que foi a Esquerda, desde o Partido Comunista, passando por várias individualidades que vieram a integrar o Partido Socialista ou outros partidos daquela área política, quem mais combateu a ditadura salazarista. Mas muitos outros se destacaram também nesse combate, não sendo propriamente de Esquerda, bem pelo contrário. Basta lembrar o papel importante dos deputados que integraram a famosa Ala Liberal, com Francisco Sá Carneiro à cabeça.
Mas a questão essencial aqui é que se o 25 de abril marcou a instauração da democracia em Portugal e se a democracia significa pluralidade e tolerância para com as opiniões contrárias, não faz nenhum sentido que, quase 50 anos depois, ainda haja quem queira ditar quem pode e não pode celebrar a data.
A reação de Jerónimo de Sousa não foi isolada, faz parte de uma cultura ainda muito presente em boa parte da nossa Esquerda, que continua a teimar em apropriar-se da data. Veja-se o que aconteceu há um par de anos, com a Iniciativa Liberal a ser literalmente escorraçada do habitual desfile pela Avenida da Liberdade, acabando por organizar o seu próprio desfile. Faz algum sentido?
Outro mau exemplo da falta do espírito de abril foi quando Cavaco Silva discursou pela primeira vez, no 25 de abril, como Presidente da República. Se anteriormente, com Mário Soares e Jorge Sampaio, toda a assembleia aplaudiu de pé o Presidente de Portugal, no final do seu discurso, com Cavaco, o primeiro Presidente da República da Direita, nem todo o hemiciclo manteve essa boa tradição democrática. Que diferença para com os Estados Unidos, em que conservadores e democratas aplaudem sempre, mas sempre, o seu Presidente!
Gostaria de estar enganado, mas receio que esta clivagem nunca vá desaparecer de certas mentalidades e, com isso, a celebração da data perca, progressivamente, a sua força, como de certo modo já acontece hoje em dia.
O 25 de abril foi feito para todos os portugueses e a todos deve pertencer, sem exceção.
Viva o 25 de abril!