Já reparou onde passam os fins de semana aqueles que realmente têm dinheiro? Não falamos de aparências, mas de substância.
Daqueles que dispensam a ostentação digital e preferem o luxo discreto da vida bem vivida. Pois bem, eles não estão em Lisboa, atolados no trânsito da Segunda Circular, nem a equilibrar copos caríssimos em rooftops do Porto. Estão no Alto Minho. Esse pedaço de Portugal que parece ter sido guardado num envelope de cera, à espera que alguém o reabra com a solenidade que merece.
Em Viana do Castelo, é cada vez mais comum cruzarmo-nos com matrículas estrangeiras, condutores de olhar tranquilo, a caminho de um campo de golfe que se atravessa com a mesma leveza de quem vai buscar o jornal de domingo. Em Ponte de Lima, respira-se um ar puro que não conhece a pressa. Até Cristiano Ronaldo, entre um golo e um mergulho no mar, já escolheu a região para uma escapadinha estratégica. E no Gerês? Encontramos mais empresários a descansar do que em muitos fóruns de inovação tecnológica. Coincidência? Claro que não.
Lisboa continua a ser a capital. É lá que se concentram os melhores restaurantes, os hotéis de cinco estrelas, os empregos de topo, a energia constante de quem está sempre a fazer acontecer. Mas há um custo. A capital sufoca no trânsito, nos preços, na azáfama sem pausa. Os transportes públicos tornaram-se um desafio sensorial: entre chamadas em alta voz e monólogos existenciais em vídeo chamada, não falta quem deseje trocar tudo por uns dias de sossego — de verdade.
E é aqui que o Alto Minho se destaca. Porque não oferece apenas descanso. Oferece qualidade de vida. Ar limpo, horizontes verdes, história viva a cada esquina, vilas que cheiram a lenha e pão acabado de cozer. É um reset necessário num mundo que gira rápido demais. Mas atenção: não se trata apenas de paisagem bonita. Algo está a fermentar por aqui. E o aroma é promissor.
Imagine cavalos a trotar junto ao rio, um prato de rojões servido com vista para montanhas que parecem saídas de uma tela impressionista, a brisa a atravessar o silêncio como se este fosse também uma forma de património. Tudo isto existe. Só que falta o impulso — aquele momento em que alguém diz: “É agora”.
O Alto Minho tem todas as condições para se tornar o próximo grande destino de Portugal — e não falamos de turismo de mochila às costas. Falamos de projetos ambiciosos: gastronomia com estrela, festivais que tragam vida sem esmagar a identidade, hubs empresariais que liguem Braga, Porto e Viana numa rede de talento e inovação. Precisamos de infraestruturas à altura do potencial. Precisamos de eventos, de congressos, de encontros que façam mover pessoas e ideias.
Imagine um centro comercial ao ar livre entre Braga e Viana, com lojas que valem a viagem e cafés onde o expresso vem com vista para a serra. Hotéis que combinem spa e teletrabalho — ou melhor, onde o Wi-Fi seja apenas decorativo. Festivais de música eletrónica no Gerês, a fazer eco entre os penedos. Feiras de vinhos em Monção que ponham enólogos franceses a tomar notas. Tudo isso é possível, desde que feito com sensibilidade.
Mas aqui está o verdadeiro segredo: nada disso pode apagar o que o Minho é. A verdadeira riqueza desta terra está na autenticidade. Na natureza intacta, nos sabores que não se apressam, na calma que não se vende em pacote turístico. O desafio é atrair o novo sem destruir o velho.
É hora de agir. Empreendedores, investidores, Turismo de Portugal, autarquias — todos devem juntar-se em torno de um plano comum. Criar clubes, fóruns, movimentos estratégicos que concentrem esforços em três polos principais: Braga, Porto e Viana do Castelo. E é em Viana que o maior potencial repousa, à espera de quem o saiba despertar.
O segredo está em atrair gente. Porque onde há gente, há ideias, há vida, há futuro. E como se atrai gente? Com experiências. Veja-se o exemplo de Austin, no Texas. Durante décadas, uma cidade comum. Até que o South by Southwest, um festival de música e tecnologia, a transformou num polo de inovação e criatividade. Vieram os hotéis, os centros de conferência, as startups, os artistas. Hoje, Austin é uma referência global. Não porque tentou ser outra cidade — mas porque soube ser ela mesma, em grande escala.
O Alto Minho pode ser o nosso Austin. Mas ainda tem tempo para escolher como quer crescer. Cabe-nos a nós decidir se o fazemos com sentido — ou se deixamos para mais tarde, quando já só restar o lamento de não ter começado antes.