O renomado quadro “A Origem do Mundo”, de Gustave Courbet, serviu de ponto de partida para a primeira Mesa de Debate do Correntes d’Escritas, que teve lugar no Cine-Teatro Garrett.
O evento contou com a presença de figuras proeminentes da literatura, como Álvaro Laborinho Lúcio, António Mota, Germano Almeida, Joana Bértholo e Patrícia Melo, sob a moderação de José Carlos de Vasconcelos.
Com o intuito de discutir a Literatura e a inquietação sobre um possível fim do mundo, Álvaro Laborinho Lúcio recorreu à obra do dramaturgo russo Anton Tchekhov, em particular à sua peça “Malefícios do Tabaco”, para abordar a “polémica pintura” de Courbet.
Para o jurista e professor universitário, enquanto a pintura representa o “princípio do mundo”, a Literatura permite uma análise do “fim do mundo”. Este último, embora não seja um conceito novo, parece agora mais iminente do que nunca.
António Mota, por sua vez, confessou que demorou a encontrar a inspiração para o tema da conversa. No entanto, ele partilhou com o público memórias da sua infância, evocando imagens do passado que pareciam “velhas e desbotadas”, e onde o mundo se limitava à sua pequena aldeia de Vilarelho. Estas recordações trouxeram um tom nostálgico à discussão, lembrando que o mundo, em muitos aspectos, é construído pelas nossas experiências pessoais.
Germano Almeida, escritor cabo-verdiano, trouxe à tona a obra “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann, para ilustrar que, apesar de algumas interpretações considerarem a pintura de Courbet como “escabrosa” ou “lasiva”, ela é, na verdade, uma homenagem à mulher e à capacidade de gerar vida.
Almeida descreveu Courbet como um “pintor de um realismo seco e combativo”, que defendia a vida como o verdadeiro propósito da arte.
Joana Bértholo, desafiada a explorar o tema, capturou a atenção do público com um exercício intitulado “Big Splash”.
Ao descrever um “manto de água voraz e inclemente”, Bértholo refletiu sobre a ideia de que o mundo começa e termina em nós, provocando uma profunda reflexão sobre a condição humana e a relação com a natureza.
Por fim, Patrícia Melo encerrou o debate oferecendo uma perspetiva sobre a Literatura como um espaço de mistério e investigação.
Patricia comparou a criação literária a uma teoria científica, afirmando que ambas são mundos imaginados que desafiam e expandem a realidade.
Para Patrícia Melo, a Literatura é uma “fábrica de mundos” que nos convida a questionar os limites do que sabemos e do que podemos imaginar.