Não desgostava de Rui Moreira, confesso.
Colocou em andamento alguns projectos engraçados, relembro com saudade a Rádio Vox (a Rádio sem publicidade) e o seu profissionalismo na organização dos jogos da Champions League(primeiros anos) em Portugal que deu um padrão em como organizar eventos em Portugal, para além de outras ligações que tinha.
Mostrava que sabia alguma coisa do que era “a vida dos comuns” e que tinha interesses para além da bola e dos negócios e isso, na minha modesta opinião, é sempre importante.
Depois, veio a presidência da ACP e começamos a notar que certas bandeiras de forma de estar popularizada por Pinto da Costa na sua presidência do Futebol Clube do Porto até aos anos 90 baseado numa ideia de centralismo de Lisboa,de ninguém compreende o Porto, o discurso de “contra tudo e contra todos”.
Depois a chegada à presidência da Câmara Municipal do Porto.
Descola-se da órbitra do CDS, torna-se independente para não ficar colado ao PSD e do legado de Rui Rio e ganha a CMP, começando mal o seu mandato quando na noite da sua eleição diz que uma vitória daquelas “só poderia ocorrer no Porto”.
Penso que não tenha sido a primeira vez que um movimento tenha ganho uma câmara municipal, e não será a última, e se pensarmos em toda a publicidade que foi tendo como comentador em relação aos seus concorrentes a vitória não parece tão extraordinária e passou um atestado de ignorância ao resto do país. Não gostei.
Foi um prenúncio de um político que mesmo com um passado fora da política e sem amarras a partidos políticos raramente conseguiu ver mais além do que era a sua própria barriga tendo colocado a cidade num caminho de irrelevância crescente quer num cenário nacional quer num cenário inter-regional entre Norte de Portugal e Galiza.
Senão vejamos.
Apesar da sua experiência empresarial, o Porto não consegue atrair mais e novas empresas, continua uma elevada dependência do Turismo, continuando o caminho de Rui Rio, em termos de habitação, apesar da crise atual, diz que não quer mais habitação a preços acessíveis dentro da cidade, em termos de transportes só quando existe dinheiro da Europa é que temos a ampliação do Metro e em relação a uma das suas lutas, a TAP, não só não consegue fazer do Sá Carneiro um hub como não consegue criar uma empresa de aviação baseada na cidade,
Resumindo, Rui Moreira deixa a cidade numa posição secundária e secundarizada, mas olhando para as suas declarações parece que todos os problemas são a incapacidade do “Poder Central não perceber o Porto”.
Olhando para Braga, o facto desta estar mais afastada do Poder Central não a fez perder força e afirmasse como 3ª cidade do país. E mesmo a crescente zona Centro.
Mas onde mais se nota que Rui Moreira mediu a cidade pelo tamanho da sua barriga é na forma como trata as pessoas.
Com a confirmação do sentimento anti-imigração retira a disponibilização de edifícios para 2 mesquitas numa situação grave numa cidade que vive dos invisíveis estafetas e TVDE’s para alimentar uma significativa parte da indústria turística, preocupa-se apenas com os sem-abrigos e toxicodependentes que circulam perto da freguesia de Nevogilde (uma das mais ricas do Norte) expulsando-os para outras zonas da cidade, permitiu que nessa mesma freguesia (desprovida de grandes transportes públicos) exista uma das mais singulares situações em todo o Portugal onde todo o estacionamento seja quase em exclusivo para os residentes e inacessível a quase todos os outros habitantes da cidade.
Se isto não é uma segregação social, não sei o que será
E como o mandato está a acabar, vai seguir para um lugar na OCDE, já que o lugar de deputado europeu ficou ocupado por Sebastião Bugalho.
Rui Moreira foi isto, um independente muito convencido de si mesmo, que gostava de demonstrar aquilo que a sua família nobre fez na cidade, que trouxe um conjunto de créditos da vida fora da política mas que quando na política não soube ver a cidade, e o seu desenvolvimento, para além daquilo que era o seu mundo e a sua experiência, que tratou a cidade como quem cuida da sua rua e das ruas que contactam com ela, e que no final dos seus mandatos demonstrou uma vontade imensa em ter os bons lugares que a vida política pode proporcionar.