Independentemente de tudo o que se vive nestes dias na Igreja, que leva a um afastamento de muitos fiéis, devemos recordar que a Igreja não é feita apenas de padres, de bispos e de outros membros eclesiásticos ou não eclesiásticos que, alegadamente, enfermam dos maiores pecados… A Igreja é feita de fé; da fé das pessoas, da sua devoção, da sua ligação com o Divino.
Esposende tem, inquestionavelmente, uma grande tradição no que toca a estas cerimónias religiosas, cujos pontos altos são as celebrações de Quinta-feira, com a Missa de Lava-pés e a Procissão dos Passos com o Sermão do Encontro, e na Sexta-feira, com a Missa da Paixão e a procissão do Enterro do Senhor.
No entanto, estas cerimónias têm vindo, de forma acentuada, a perder cada vez mais participantes ou simplesmente pessoas a que a elas assistem.
Se há uns anos, no que toca ao Sermão do Encontro, não era raro ver o Largo Rodrigues Sampaio apinhado de gente, nos últimos anos (excluindo obviamente os anos de pandemia) vemos cada vez menos gente e cada vez mais, as mesmas pessoas…
Felizmente ainda vai havendo um certo “bairrismo” no cumprimento destas tradições, e a esses “bairristas” tiro-lhes o chapéu!!! Há famílias que fazem centenas de quilómetros para “dizer presente” nas tradições da terra que os viu nascer, incutindo aos seus familiares mais novos a força destas tradições que os nossos antepassados preservaram através de séculos.
É uma manifestação de um “bairrismo” salutar, mas não só! É também uma demonstração de fé, de interiorização da morte e ressurreição do Senhor e da recordação daqueles que nos precederam e legaram estas memórias.
Mas, voltando a centrar a questão na falta de pessoas que assistem a estas cerimónias, Esposende tem de criar mecanismos de atração efetiva de “forasteiros” à nossa Semana Santa. Todos sabemos que a facilidade de meios que caracteriza os nossos dias, leva cada vez mais gente à sede do distrito para assistir ao culto na Sé e nas ruas de Braga, mas cabe-nos a nós, repensar a nossa estratégia e tentar inverter esta tendência.
A Semana Santa em Esposende não pode ser apenas para, como se diz, “cumprir calendário”!
A Semana Santa em Esposende encerra em si séculos e séculos de história, e deve ser mantida e potenciada.
Deverá existir uma articulação efetiva entre a Fábrica da Igreja e a Santa Casa da Misericórdia de modo a capitalizar esta “riqueza” do Concelho. Cabe a ambas a dinamização destes “entendimentos” a nível religioso, repensá-los e atualizá-los sem os desvirtuar, tendo em vista um plano para cativar mais turismo e congregar os nossos conterrâneos concelhios.
Assim o queiram os respetivos Párocos.
Para isso deve-se ter em conta que a tradição é que faz com que as coisas perdurem e não é com mais anjinhos, com mais cânticos, com mais bandeiras, com mais, mais, mais que se conseguem as coisas; o “menos é mais” quando tem qualidade! E um regresso às origens (não muito distantes) das nossas tradições, já estudadas e colocadas em livros, poderá fazer a diferença.
Basta tornar a por as coisas certas nos sítios certos.
A todos os meus votos de uma Santa e Feliz Páscoa.