O primeiro destaque surgiu com o astronómico custo do altar-palco das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ).
Desde a Câmara Municipal de Lisboa ao Governo, passando pela organização, ninguém saiu bem da fotografia. Valha a verdade, porém, que a principal culpa desta polémica reside nos poderes públicos, que, à boa maneira portuguesa, deixaram tudo para a última.
É, realmente, de bradar aos céus que um evento que já se conhece desde 2019 (!) apenas comece a ser executado a tão poucos meses do seu início.
Subitamente, muitos começaram a questionar a localização das JMJ em Lisboa, sugerindo, como alternativa, o recinto do Santuário de Fátima. Ora, o santuário, na melhor das hipóteses, consegue acolher 648 mil pessoas. Já as
JMJ de Lisboa apontam para um número de participantes nunca inferior a 1 milhão de pessoas. Só mesmo o milagre da expansão do recinto para fazer Fátima ter capacidade para receber tão elevado número de pessoas…
Outra crítica apontada às JMJ está relacionada com os dinheiros públicos que serão gastos na preparação do evento, no que foi visto como um atentado ao laicismo do Estado português. Uma polémica sem sentido, diga-se. Uma coisa é o Estado confessar uma religião, o que não faz, outra coisa, bem diferente, é o Estado apoiar acontecimentos com impacto favorável no país, independentemente da proveniência da organização.
Estávamos ainda no rescaldo da discussão sobre as JMJ, quando foi, entretanto, divulgado o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, documento recebido com natural tristeza, desapontamento e revolta.
Em jeito de reação sobre os abusos cometidos, ganham atualidade as palavras do Papa Bento XVI, retiradas do livro que recomendo “Luz do Mundo”: «este é um pecado particularmente pesado, porque alguém que deveria, precisamente, ajudar a aproximar o Homem de Deus, e em quem uma criança, um jovem, confiam para que os ajude a encontrar o Senhor, em vez disso abusa deles e afasta-os do Senhor. Desse modo a fé, enquanto tal, torna-se inverossímil, e a Igreja deixa de poder apresentar-se fidedignamente como proclamadora do Senhor.
Tudo isso me chocou e abalou profundamente, ontem como hoje. Acontece também que o Senhor nos disse que no meio do trigo haveria de existir o joio, mas que a semente, a sua semente, continuaria apesar de tudo a crescer. Nisso depositamos a nossa confiança.
Abre-se agora à igreja uma oportunidade para retirar deste grande mal o impulso para uma igreja renovada. Assim seja.