Se quisesse resumir o caminho que nos falta fazer na valorização da condição feminina, diria simplesmente isto: os pensos higiénicos são taxados com IVA a 23% enquanto o Viagra é a 6%.
É claro que nem todos os problemas da condição feminina se resumem ao trabalho, mas na semana do Dia Internacional da Mulher, refletir sobre o papel, no passado e no futuro, que a valorização da mulher no trabalho teve nas conquistas civilizacionais da condição feminina é sempre essencial.
As mulheres portuguesas pagaram caro a neutralidade do país na II Guerra Mundial. Enquanto na Europa em guerra a mulher substituía o homem transversalmente em todas as áreas da sociedade, em Portugal as mulheres continuavam remetidas a trabalhos secundários na agricultura e pescas, e quem tinha a possibilidade de estudar, a apenas duas ou três carreiras. Não será estranho que mesmo em países que se tornaram ditaduras férreas no
pós-guerra o aborto e o divórcio (entre outros) eram já direitos consagrados às mulheres nos anos 50. Com a salto industrial no pós-25 de Abril, e um país cada vez menos rural e primário, mais mecanizado, automatizado e menos dependente do trabalho braçal, a mulher chega às linhas de produção, tornando cada vez mais o chão de fábrica um local misto e com necessidade de se adaptar a esta nova realidade.
A forma de trabalhar, o modo de produção, alterou, colocando o em termos de execução de trabalho homens e mulheres a um nível mais próximo, e com isso alterou-se o modo de troca entre empregado e empregador. Com esse salto civilizacional veio a luta de um salário igual para trabalho igual, de condições iguais para responsabilidades iguais, de instituições que se conseguem adaptar às singularidades da condição feminina, em especial a maternidade.
Mas depois da pandemia, o Mundo laboral, o meio de produção, mudou e isso altera necessariamente a forma de troca entre empregado e empregador e devemos refletir sobre quais os próximos passos a dar.
Os mais básicos, e os essenciais, a igualdade salarial mais do que necessária é uma obrigação moral e a erradicação do assédio sexual no local de trabalho garantindo igualdade entre trabalhadores.
A maternidade terá ela de ser também uma componente obrigatória no planeamento de carreira de uma trabalhadora, em que este período de menor disponibilidade e de ausência exige maior suporte na reentrada da vida ativa e de rápida readaptação por parte do empregador não representando um ónus para a mulher.
O trabalho remoto é uma realidade e assegurar uma eficaz separação da vida privada e profissional nos seus domicílios é essencial para garantir horários compatíveis com a vida familiar, ainda hoje uma tarefa largamente feminina, e um equilíbrio entre vida profissional, familiar e pessoal. Neste campo, o caminho para a obrigatoriedade das empresas garantirem acesso preferencial a jardins de infância e escolas do 1º ciclo terá de ser percorrido, em especial para as grandes empresas.
Mais haveria para dizer, e debater com certeza, e é certo que mesmo em sociedades que permitem o acesso da mulher ao mundo de trabalho temos crassas desigualdades e longos caminhos para fazer, não tenho a mínima
dúvida sobre isso, no entanto, não deixa de ser curioso que o silogismo de Marx, um homem que viveu no séc.XIX, continua a fazer tanto sentido passados tantos anos, o mundo do trabalho é um espelho da sua sociedade.
Por isso, deixo o repto: Mulheres de todo os países, uni-vos!