Na segunda-feira passada do apagão nem todo o Portugal ficou às escuras, algumas (poucas) zonas com comunidades energéticas ficaram como estavam, a funcionar.
A noção de uma comunidade energética é uma ideia que está a ter sérias dificuldades em arrancar em Portugal, apesar de estar a começar a ser implementada noutros países, e que depois do apagão será uma das soluções de muita utilidade e um esforço compensatório altamente eficaz.
É fácil explicar o que é uma comunidade energética: imaginem uma cidade, aldeia, bairro ou até rua que produz, distribui e comercializa a sua própria energia aos consumidores dessa zona.
Ou seja, essa comunidade é a gestora de todo o processo da alimentação elétrica.
É criar numa determinada zona a possibilidade de gerar energia (geralmente através da eólica ou solar), colocando-os na tensão desejada que depois é distribuída através da sua própria rede eléctrica, pelas habitações particulares e pelos clientes industriais dessa zona, não sendo colocado o foco na sua venda à rede de distribuição da EDP, como geralmente é feito no caso dos clientes privados que têm painéis solares.
Alguns que estão a ler este artigo devem conhecer um modelo parecido, o das cooperativas eléctricas, com forte incidência no Centro de Portugal, que incidia na distribuição, comercialização (e manutenção dos equipamentos) sobre a sua zona mas que se vai abastecer à rede eléctrica envolvente, ou seja, à EDP ficando na mesma dependentes.
Nas comunidades energéticas não se tem essa questão, está garantida a independência.
É um modelo que nos permite não só controlar a nossa produção, os nossos factores de custo e de preço final como permite também criar um conjunto de empregos e de ambiente económico à volta desta comunidade de valor mais acrescentado e de elevada especialização, ao ter de garantir a gestão e a manutenção de todo uma rede de ponta-a-ponta elétrica numa comunidade.
E com o franco crescimento dos veículos eléctricos, neste modelo podemos criar pacotes de baterias, powerbanks gigantes, com base em baterias de automóveis, garantindo energia para os períodos de menor produção e permitindo a reciclagem das baterias dos nossos veículos.
Estou ciente que aos dias de hoje este modelo ainda têm alguns desafios, para não dizer possíveis problemas.
O investimento inicial é ainda considerável, apesar de existir fundos europeus para o mesmo, a variação de preço é mais focada nas condicionantes locais e não estão dispersas pela realidade local e ter diversos clientes industriais será sempre um processo mais demorado para garantir que todos têm energia.
Sei bem, mas já defendi a implementação desta solução aquando da minha candidatura às Autárquicas 2021 e passados 4 anos estou certo de que será um modelo com argumentos para ser implementado.
Sei que não é um modelo para reduzir o preço já, mas é um investimento que terá usufruto por diversas gerações.
Fica a ideia.
EDP é várias vezes mencionada e deveria ser antes E-Redes que é a distribuidora de energia em Portugal.