Basta ver que, um par de anos depois, recém-entrado na Faculdade de Direito de Lisboa, tinha vários colegas que, mal lhes dizia que era de Esposende, respondiam de imediato com a ADE e a célebre edição da taça de Portugal.
Pois bem, nessa recordação pelo YouTube, vi imagens da meia-final contra o Campomaiorense, uma tarde em que um mar de gente, especialmente vinda de Campo Maior, inundou a nossa terra. Nesse visionamento, vislumbrei a figura do Comendador Rui Nabeiro, felicíssimo da vida com o apuramento da sua equipa para o Jamor (por contraponto com a minha tristeza nesse dia…).
Também eu estive no Padre Sá Pereira nessa tarde de festa da taça, mas confesso que desconhecia, até recentemente, que o comendador também tinha vindo à nossa terra para assistir ao jogo.
Rui Nabeiro, o Sr. Rui, é uma figura que atravessa as nossas vidas. Desde logo, de cada vez que entrávamos num café com o logotipo da Delta Cafés no toldo. Ou então nos pacotes de açúcar ou chávenas de café com a mesma marca. Teve, igualmente, presença mediática ao longo dos anos, sendo muitas vezes entrevistado. Destacava-se, a esse título, pelo seu sorriso característico, de bonomia, que nunca largava.
Rui Nabeiro não teve os estudos de um Alexandre Soares dos Santos ou de um Belmiro de Azevedo, mas isso não impediu que fosse um empresário de sucesso, com relevante presença internacional. Foi um empreendedor, teve rasgo e visão.
Mas, na hora da sua morte, o facto mais lembrado e destacado, não é a fortuna acumulada, mas a sua personalidade humanista. Rui Nabeiro é lembrado como o homem que não dizia não a um pedido de trabalho, ou de ajuda. Rui Nabeiro é chorado como o patrão amigo dos seus trabalhadores, que sabia o nome de cada um, que tinha uma palavra sempre amiga e, sobretudo, que fazia sempre questão de partilhar o seu sucesso empresarial com todos.
Sejamos francos, nenhum destes atributos foi lembrado na hora da partida de Soares dos Santos, Belmiro de Azevedo ou Américo Amorim, e esse pormenor só sublinha a grandeza de Rui Nabeiro.
Não sou campomaiorense, mas isso não impediu que me emocionasse ao ver o tributo que os trabalhadores da Delta prestaram a Rui Nabeiro (dez minutos ininterruptos de aplausos), ou ao ouvir as várias histórias sobre a sua simplicidade, humildade e generosidade (como foi o caso de uma visita às festas de Viana do Castelo, em que nessa noite só havia um quarto disponível com duas camas. O motorista do Sr. Rui disse-lhe para não se preocupar, que iria procurar dormida para si num lugar à volta de Viana, tendo o Sr. Rui respondido que não valia a pena, pois o quarto tinha duas camas e ficavam os dois a dormir lá).
O Sr. Rui deixa um gigantesco exemplo para o país. Fica a dúvida sobre se terá um sucessor. Quero acreditar que sim.