As Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) foram um projeto inovador no nosso concelho muito antes de existirem como oferta complementar educativa a nível nacional.
Há mais de 20 anos que Esposende desenvolve e promove a oferta da Música e da Atividade Física, entre outras atividades, junto da população do Pré-escolar e 1º ciclo do ensino básico (1º CEB).
Ou melhor, promovia…
Já lá vão os tempos em que muitos técnicos e decisores políticos de outros concelhos e regiões, vieram até Esposende para ver “in loco” como aqui se fazia e implementavam projetos inovadores e excelentes do ponto de vista pedagógico e educativo.
Ao nível da Música era feito um trabalho excecional pela Escola de Música de Esposende, onde o gosto pela aprendizagem musical, pelos instrumentos e pelo canto era desenvolvido desde tenra idade e Esposende era visto como uma referência nacional. Este trabalho de base fazia com que as turmas do ensino articulado tivessem muita procura (maior do que a oferta), a Escola de Música tivesse números de alunos acima das médias nacionais e o concelho “respirasse” uma cultura musical que nos orgulhava a todos! O surgimento e o trabalho com os coros (Coro dos Pequenos Cantores e Ars Vocalis) foram o corolário de todo este trabalho, dedicação e envolvimento com a comunidade.
Também ao nível da atividade física foram feitos trabalhos excecionais em articulação com os clubes e associações desportivas. Foram vários os projetos em parceria que permitiram o desenvolvimento da patinagem, do andebol, do gira-vólei, do judo, da escalada, do badminton, do surf, entre outras modalidades.
Todas as turmas do Pré-escolar e 1º CEB tinham Natação, pelo menos durante um período. “O nadar é um investimento para a vida” é hoje apenas e só uma frase feita.
A Canoagem, considerada estratégica, foi outra das modalidades abordadas no âmbito das AEC e que permitiu o financiamento de projetos do clube para a aquisição de material através da CIM Alto Minho, dentro dos projetos de desenvolvimento da Náutica.
Tudo ou quase tudo se perdeu… infelizmente. E não foi por causa do COVID!
Foi por falta de estratégia e de visão a médio e longo prazo. E tudo será pago em devido tempo. Aliás, já estamos a pagar. As tecnologias ganharam o lugar do ar livre, da prática desportiva, das brincadeiras, dos instrumentos musicais, …
Essa falta de estratégia, a que se associou a pouca vontade de ter trabalho, e também algumas chatices, no recrutamento dos professores, fez com que se passasse a competência pelo desenvolvimento e implementação das AEC para os Agrupamentos Escolares.
Foi o princípio do fim.
A burocratização dos processos, a contratação dos professores, a falta de ligação e articulação com o associativismo, os horários das atividades e acima de tudo a falta de reconhecimento da importância das AEC levaram a que se tornassem aquilo que são hoje: algo sem grande valor e pouco reconhecidas pelos alunos, professores, pais e encarregados de educação.
Vi nascer, vi crescer e vi os frutos de um trabalho excecional de muita gente, que fizeram do concelho de Esposende uma referência nacional ao nível deste projeto pedagógico e educativo.
De forma triste e em certa medida desiludida, vejo este projeto caminhar a passos largos para o desaparecimento e extinção.
E logo numa altura das nossas vidas em que projetos deste tipo deveriam ser o alicerce das nossas comunidades escolares, com atividades criativas, diferenciadoras e identitárias.
Precisamos urgentemente de uma “lufada de ar fresco”; de gente capaz, com ideias e arrojo, para salvar o que ainda é possível, sob pena de perdermos definitivamente esta “guerra” para o sofá, onde as nossas crianças e jovens passam cada vez mais tempo.
E é na ESCOLA que esta “guerra” ainda pode ser ganha!
Assim todos o queiram…