A peça artística “Until the Last Drop”, concebida pelos criadores Mário Vila Nova e Inês Norton, selecionada como uma das dez finalistas do “Prémio Norberto Fernandes”, da Fundação Altice, na categoria de Arte e Tecnologia.
A peça ficará exposta na Fundação Portuguesa das Comunicações em Lisboa, a partir de 18 de outubro.
O projeto, que surgiu de uma colaboração durante o mestrado dos artistas na Universidade do Minho (UMinho), explora a interseção entre arte e tecnologia, com um foco particular na crescente escassez da água e na mediação tecnológica da realidade.
Mário Vila Nova, engenheiro natural da Moita e radicado em Braga, e Inês Norton, artista a viver em Lisboa, uniram as competências pessoais para desenvolver esta obra que tem vindo a captar atenção pela abordagem inovadora e pela relevância da temática: a água.
Segundo os criadores, a peça representa uma visão de um futuro onde a água, um bem cada vez mais escasso, desapareceu do seu estado natural, sendo necessária a intermediação tecnológica para que os indivíduos possam perceber e experienciar a sua presença.
Em declarações ao E24, Inês Norton sublinhou que o projeto “começou no âmbito académico, onde ambos os artistas, durante o mestrado, cruzaram as suas valências para criar um trabalho conjunto”.
“Apesar de termos desenvolvido teses escritas distintas, a base de estudo foi a mesma: esta peça”, explica.
A primeira apresentação da obra ocorreu num contexto académico e limitado, mas desde cedo os artistas perceberam o potencial da mesma.
“Compreendemos que esta temática, especialmente a questão da água, era extremamente atual e relevante”, acrescenta Mário.
Funcionamento da peça
“Until the Last Drop” convida os espectadores a uma experiência imersiva e sensorial. Mário Vila Nova, com o seu conhecimento em engenharia, descreve a parte técnica da instalação como uma ” peça de superfície tátil onde são projetadas imagens alusivas ao tema da água”.
“Estas imagens são trabalhadas digitalmente para gerar informações 3D, que depois deformam dinamicamente a superfície, criando relevos que podem ser tocados pelos visitantes”, refere.
A interação tátil é um dos principais elementos que torna a obra tão envolvente, permitindo ao público explorar a temática da água de uma forma física e direta.
A peça “Until the Last Drop” contém cerca de 200 servomotores que controlam a superfície de projeção, criando uma experiência interativa que vai além da simples contemplação visual. A ideia, explicam os criadores, é “provocar uma reflexão sobre a forma como a água é percecionada no mundo atual, onde muitas vezes se interage com os recursos naturais através de mediações tecnológicas”.
Porquê “Until the Last Drop”?
O título da obra, “Until the Last Drop” (Até à Última Gota), não foi escolhido ao acaso. Reflete a mensagem central da peça, um mundo onde a água é um recurso tão raro que só pode ser experienciado através de uma intermediação tecnológica, criando uma metáfora poderosa sobre o uso e abuso deste recurso essencial.
“Queremos que as pessoas reflitam sobre o uso da água e sobre o perigo de a perdermos completamente, caso não mudemos os nossos hábitos”, afirma Inês Norton.
A instalação tem também uma forte componente pedagógica, algo que os artistas consideram essencial para o sucesso e impacto do projeto. Mário e Inês veem um futuro em que a obra possa ser apresentada em escolas ou em eventos dedicados à sensibilização ambiental.
“A peça tem o potencial de incutir nos mais jovens a importância da preservação dos recursos hídricos”, sublinha Mário. “É uma peça que convida à reflexão e à mudança de comportamentos”, acrescenta Inês.
Futuro da peça e novos projetos
Após a exposição em Lisboa, a dupla espera levar “Until the Last Drop” para outras cidades do país, especialmente para regiões onde a gestão da água é uma preocupação crescente.
“Gostaríamos de expor a peça em localidades que enfrentam dificuldades no acesso à água potável, utilizando-a como ponto de partida para debates e conferências sobre a preservação deste recurso”, destaca Inês.
Além deste projeto, Mário e Inês estão já envolvidos em novos trabalhos, continuando a explorar o cruzamento entre arte e tecnologia. No ano passado, os artistas participaram numa exposição em Vila Nova de Cerveira com outra peça, e foram também finalistas no Festival Internacional de Videoarte de Lisboa (FUSO), com uma obra de vídeo arte. Também mantiveram exposição no GNRation no âmbito do mestrado em Media Arts.
A criatividade da dupla parece não ter limites, com vários projetos em desenvolvimento. Para já fica a “Until the Last Drop” .