A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, tem sido alvo de questionamentos sobre as suas escolhas para a liderança das Unidades Locais de Saúde (ULS). Barcelos/Esposende é uma delas.
A situação ganhou destaque após o médico e conselheiro nacional do PSD, Adélio Miranda, revelar em entrevista que foi convidado pela ministra para dirigir uma ULS da sua escolha, contestada localmente.
Na lista apresentada por Ana Paula Martins, constavam a ULS de Barcelos/Esposende, a ULS da Póvoa de Varzim/Vila do Conde e a ULS do Alto Minho, tendo o médico optado pela primeira.
No entanto, o Ministério da Saúde desmentiu o convite e reafirmou a confiança na atual administração da ULS de Barcelos.
As declarações de Adélio Miranda foram divulgadas em uma entrevista ao jornal local “Barcelos Popular” na terça-feira.
O militante social-democrata confirmou as suas afirmações, mas não quis aprofundar a questão, limitando-se a dizer: “O que eu disse no jornal está dito, não tenho mais nada a acrescentar”.
Na entrevista, o médico, que também é coordenador da Unidade de Saúde de Cuidados Paliativos de Barcelos, mencionou que o convite para presidir uma das três ULS foi feito pela ministra da Saúde.
“Optei pela ULS de Barcelos, pois era onde poderia trabalhar de forma mais eficaz”, explicou Adélio Miranda.
Quando questionado, o Ministério da Saúde não confirmou que tivesse sido feito qualquer convite a Adélio Miranda e reiterou a confiança na atual administração da ULS de Barcelos/Esposende, de Tiago Gonçalves.
O conselheiro nacional do PSD, que anteriormente liderou a bancada do partido na Assembleia Municipal de Barcelos, acrescentou que, após o convite, as equipas foram organizadas e entregues ao Ministério.
No entanto, o processo teve um atraso devido à demissão do anterior diretor executivo do SNS. Ao ser questionado se já haviam sido submetidos nomes à Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CRESAP), Adélio respondeu que não, mas revelou que impôs condições à ministra que ainda não foram garantidas.
“Aceitei o convite sob condições que ainda não me foram formalmente asseguradas”, afirmou, adiantando que tinha informação de que haveria desenvolvimentos nas próximas semanas.
A possível mudança de Adélio Miranda para a ULS de Barcelos já vinha sendo discutida desde o final do ano passado.
Esta eventual alteração levou, em janeiro, cerca de 40 médicos a assinarem uma carta aberta em defesa da atual administração. O atual líder da ULS de Barcelos, Tiago Gonçalves, ex-chefe de gabinete do secretário de Estado da Saúde, foi nomeado por Fernando Araújo, ex-diretor executivo do SNS, a 1 de fevereiro de 2024.
Desde que o Governo tomou posse, já ocorreram mudanças em mais de uma dezena de conselhos de administração das ULS, seja por exonerações, não reconduções ou demissões apresentadas à tutela.
Algumas dessas escolhas têm sido contestadas, como caso da ULSAM, pela proximidade dos nomeados ao aparelho do PSD e pela falta de experiência para os cargos. Além disso, administradores exonerados já avançaram com pedidos de indemnização.
Recentemente, foram aprovadas em Conselho de Ministros novas administrações para a ULS do Tâmega e Sousa, que será liderada pelo atual presidente da Câmara de Amarante, José Luís Gaspar, e para a ULS de Gaia e Espinho.
A nomeação de autarcas para estas posições tem gerado controvérsias. O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, defendeu que a nomeação do presidente da Câmara de Amarante para a ULS do Tâmega e Sousa deve ser explicada pela tutela, sob pena de ser interpretada como uma nomeação política.
Xavier Barreto realçou que estes cargos não podem ser vistos como um fim de carreira ou reservados para quem já não pode continuar em funções numa Câmara Municipal.