Uma declaração de interesses desde já: nunca votei em nenhuma lista onde Santos Silva era candidato e numa hipotética candidatura presidencial vejo com muita dificuldade que conte com o meu voto numa 1ª volta.
As cenas que vimos na de Assembleia da República pela presença de um chefe de Estado eleito democraticamente, que recentemente se viu alvo de uma tentativa de golpe de Estado, em nada se pode comparar à troca de impressões que Santos Silva, Costa e Marcelo fizeram sobre a lente de uma câmara da AR TV.
O Chega merecia aquele sermão de Santos Silva? Claro que sim! A IL ficou mal na fotografia por ter ido a reboque do Chega? Claro que sim!
Uma coisa é dizer-se que se é duro e frio numa circunstância, outra é fazer pateadas, bater na mesa e trazer cartazes para incomodar de quem não gostamos fala na Casa da Democracia. Se alguém afirmar que é a mesma coisa, gostaria muito de saber que tipo de educação estas pessoas estão a dar aos seus filhos.
Mas penso que Santos Silva poderia e deveria ter feito mais: ordenar a retirada dos deputados do Chega da Assembleia da República depois da conduta demonstrada. Se em 2003 Mota Amaral ordenou a retirada dos deputados do Bloco de Esquerda por usarem uma tshirt anti-intervenção no Iraque, é incompreensível como Ventura e seus deputados conseguiram chegar ao fim da sessão sentados na sua cadeira porque a Casa da Democracia não deve é um local de aprendizagem de boas maneiras e protocolo.
No entanto, e não digo isto com ironia, os deputados do Chega tiveram o privilégio de receberem uma vénia de Lula da Silva.
Interessante foi ter visto uma boa parte dos nossos comentadores, alguns com responsabilidades políticas, da área da Direita terem tentado a equivalência entre as duas, naquilo que tenderá ser a tónica nos tempos futuros de um branqueamento do Chega agora que se deslumbra um cenário de eleições legislativas antecipadas e apenas uma gerigonça onde participe o Chega permite uma alternativa governativa à Direita.
A Primavera de 2023 trouxe claramente à Direita novos ares, e ímpetos, com o deslumbre da hipótese de conseguir eleições e uma maioria de Direita, algo impensável há uns meses atrás onde a apatia de Luís Montenegro e Rui Rocha, um Nuno Melo ainda desaparecido na Europa nestes últimos tempos têm deixado ao populismo de Ventura as provas de vida e as palavras de ordem de toda a ala. Não o digo com satisfação e prazer, deixem-me ser claro.
Mas se maior prova de que os espíritos andam animados em alguma Direita, a colagem que alguns tentaram fazer entre Santos Silva e Sócrates é a maior prova disso.
Ainda hoje uma parte da Direita anda à procura do seu Sócrates, uma personagem que seja um animal político feroz, combativo, que não recue perante mesmo em desvantagem, não tenha medo de alvejar verbalmente os seus adversários em Assembleia.
Cavaco Silva sempre quis ser um político com cariz não-político, Durão Barroso trocou rapidamente o combate popular pela segurança dos gabinetes internacionais inscrutináveis, Passos Coelho queria ser o bom aluno da Europa e Paulo Portas sempre tentou ganhar nichos demasiado longínquos da bolha mediática , ou seja, falta alguém que declaradamente goste do sangue quente causado pelo fervor mediático e de se
atirar à Esquerda.
Ventura declaradamente gosta do mediatismo, e de se atirar à Esquerda, mas também gosta de bater na mesa, falar alto e de vez em quando achincalhar quem se encontra à volta sendo notórios os problemas em se comportar com um mínimo de urbanidade e de educação, de forma figurativa e literal, obrigando a todos aqueles que irão precisar dos seus votos uma lavagem a lixívia de Ventura e os seus companheiros, e todos sabemos que o manuseio de lixívia deixa sempre marcas na roupa, e esta lavagem de lixívia promete ser de tal forma que irá deixar muitos com a roupa bem tingida.
Vejamos nos tempos próximos quem vai perder o amor à roupa, e quando sentirmos o cheiro a lixívia falemos como Santos Silva.