O verão esposendense de 2023 foi muito rico em discussão sobre escultura e enquadramento arquitetónica em praças das mesmas mas os meus conterrâneos esqueceram-se daquela que talvez seja a mais importante estátua/monumento do concelho de Esposende, o Monumento à Liberdade da Escola Secundária Henrique Medina (ESHM), carinhosamente conhecida pela “Gaivota”.
Muito se escreveu sobre o paradeiro do Monumento aos Bombeiros que se encontrava no Largo Rodrigues Sampaio e muito também se escreveu do enquadramento no referido largo da Estátua do próprio Rodrigues Sampaio mas pouco, ou nada, se têm falado do paradeiro do Monumento à Liberdade que se
situava à entrada da ESHM, talvez o mais importante monumento que existia no Concelho de Esposende.
Não me entendam mal.
Considero que um monumento aos Soldados da Paz seja moralmente necessário e merecido por tudo aquilo que abdicam e colocam em risco a nível pessoal para ajudarem os outros, e deverá ter sempre espaço neste concelho, e que a discussão do enquadramento da estátua de Rodrigues Sampaio no seu largo faça sentido naquilo que seja a preservação de uma linha que caracteriza desde há muito toda uma praça.
Mas a “Gaivota” era diferente, muito diferente.
Em primeiro lugar não representa uma instituição, uma profissão ou uma personagem, mas sim um estado de espírito, um desejo, um caminho que se fará para um objetivo, algo intangível como a verdadeira liberdade é, sendo algo de pertença a todos mas a ninguém em particular o que faz difícil que alguém tome a sua parentalidade de forma concreta.
Em segundo lugar, e mais importante, foi edificada com base no esforço de professores e alunos.
Não foi uma iniciativa camarária, não foi uma iniciativa institucional, não foi feita com esforço de quem já é um profissional da arte, mas foi uma iniciativa de um de alunos e professores da ESHM que em 1996 dispensaram
muitas horas do seu tempo livre e de estudo para a fazer e que em conjunto definiram o projeto, despoletaram o processo, procuraram as matérias-primas, planearam os trabalhos e colocaram de pé.
A “Gaivota” é porventura dos poucos exemplos de instalações artísticas originadas, criadas e executadas na plenitude por um grupo de jovens cidadãos esposendense e um momento em que a Escola deixou de ser apenas um local de aprendizagem académica para ser um local em que se aprende o que é construir algo na vida real, com todas as dúvidas, todos os problemas e todas as diferenças de opiniões que quem constrói enfrenta, resumindo, foi um toque com a realidade que muitos daqueles alunos tiveram um e que certamente hoje não se esquecem.
Fui daqueles que vi a “Gaivota” nascer já como aluno na ESHM e que hoje sente um angústia em não a ver lá e sei que estará algures mas não está no local que ela merece estar: à entrada da ESHM como esteve por mais de 20 anos.
A “Gaivota” é um símbolo do que os jovens de ontem conseguiram fazer quando assim o quiseram e que se os jovens de hoje quiseram, também eles deixarão a sua marca na escola que os acolheu e formou e um necessário lembrete para os professores, que eles também são responsáveis pela formação cívica dos seus alunos e um dos catalisadores no despoletar de vontades e execução das mesmas dos seus alunos.
Em 2024 celebramos os 50 anos do 25 de Abril e este é o momento ideal para ter de volta a “Gaivota” eregida na ESHM!
Apelo às forças vivas transversais esposendenses, em especial CME e ESHM, para tornar este momento possível, estamos a 7 meses de Abril de 2024, e temos o tempo mais do que suficiente para tornar este desejo realidade.
Basta só querer!
Não poderei falar por todos, mas é isto que grande parte dos antigos alunos da ESHM gostariam de ver, é isto que os atuais alunos da ESHM merecem ver e será mais uma merecida homenagem ao trabalho que o saudoso Prof.º João Machado levou a cabo durante anos na ESHM.
A “Gaivota” pode lá não estar, mas sabemos quem a fez.