O julgamento de um grupo de nove arguidos, alegadamente envolvidos numa rede internacional de tráfico de cocaína, iniciou-se esta quarta-feira no Tribunal de Braga.
Os principais acusados, entre os quais empresários de Esposende e outro de Barcelos, optaram por manter-se em silêncio perante o tribunal, alegando o seu direito à não auto-incriminação.
A operação que desencadeou a apreensão ocorreu em dezembro de 2022, quando a Polícia Judiciária interceptou um contentor de bananas, armazenado em Gilmonde, Barcelos, que ocultava 70 embalagens de cocaína. Estima-se que estas embalagens correspondiam a cerca de 480 mil doses individuais, com um valor de mercado que ultrapassaria os quatro milhões de euros. Além deste carregamento, outro contentor com 629 pacotes de cocaína foi apreendido em Espanha, representando um valor superior a 25 milhões de euros.
Um Grupo Internacional Organizado
De acordo com a acusação do Ministério Público, este grupo transnacional estaria ativo pelo menos desde meados de 2020, tendo como líder um cidadão espanhol residente em Málaga. Os arguidos incluem nacionais de diferentes países: dois de Portugal, um do Brasil, um dos Estados Unidos, dois da República Dominicana e um dos Países Baixos. Seis dos acusados encontram-se atualmente em prisão preventiva.
A investigação aponta para um esquema estruturado de importação de cocaína disfarçada em contentores de frutas provenientes da América do Sul, com o objetivo de distribuir a droga na Península Ibérica. O Ministério Público descreveu o grupo como uma organização que atuava “em conjugação de esforços e de vontades” para garantir elevados lucros através do tráfico de estupefacientes.
Silêncio e Confissões em Tribunal
Durante a audiência, a maioria dos arguidos manteve-se em silêncio. Contudo, um dos réus quebrou o silêncio e admitiu ter sido contratado pelo alegado líder para participar na abertura do contentor em Barcelos, permitindo a retirada da droga e posterior camuflagem da carga. Este arguido, oriundo da República Dominicana, afirmou que o trabalho teria sido um serviço pontual pelo qual receberia 5.000 euros, valor que aceitou “por necessidade”. “Foi a pior decisão da minha vida”, confessou, revelando que o desejo de regressar à sua família a tempo do Natal influenciou a sua decisão.
Outro arguido, detido na mesma ocasião, também confessou o envolvimento, justificando a sua participação pelas dificuldades financeiras que atravessava.
O Ministério Público acredita que esta rede operava com recurso a vários cúmplices e contactos não identificados, permitindo uma operação logística que visava a introdução regular de cocaína na Península Ibérica. O empresário que detém o armazém onde a droga foi encontrada está entre os principais arguidos.