O emblemático Farol de Esposende, situado na foz do rio Cávado, está assinalar este ano o seu centenário no atual registo.
No entanto este farol nasceu em 1866 – 159 anos – e até era bem moderno para a época.
Segundo a Marinha, entre 1866 e 1925 funcionou na barra de Esposende “um farolim lenticular”, montado num candelabro de ferro, dentro do forte, à entrada da barra.
Num registo na Torre do Tombo, e durante o discurso de abertura da sessão de 28 de julho de 1881 da Comissão de Faróis e Balizas, o conselheiro Guilhermino Augusto de Barros, seu presidente, mencionava a dado passo:
«(…) Os pharolins dos Concelhos de Vianna e Espozende estão como é de uso ao ar livre, e nasceram de exigencias de occasião, destinando-se o segundo a enfiar com uma luz que nunca se collocou (…) ».
Esta luz que existia em Esposende, precursora do farol, era, curiosamente, uma das primeiras luzes a petróleo, uma inovação que só chegara a Viana do Castelo, Ericeira, Belém, Medo Alto (margem direita do Guadiana), Forte do Ilhéu (Madeira) e Ponta Delgada (S. Miguel).
O último dos faroleiros

Nogueira da Silva, foi o último faroleiro que ali exerceu funções, viveu intensamente o quotidiano do farol e marcou o fim de uma era. Nascido no Porto, Nogueira da Silva chegou a Esposende em 1986, depois de ter servido em vários faróis e integrado a Marinha.
Nesse local histórico, instalou-se com mais colegas para manter operacionais a luz e o nevoeiro sonoro até a automatização chegar em 2003.
Após essa data, o farol ficou sem guarnição permanente, ficando entregue à vigilância do Farol de Montedor.
Luz a 21 metros e a evolução
Com torre metálica de 15 m e luz a 21 m de altitude, o farol funciona como um guia — a sua luz alcança cerca de 24 milhas náutica.
Evoluiu tecnicamente ao longo de décadas: começou com luz a petróleo, em 1938 foi eletrificado, em 1980 e 1999 recebeu sistemas óticos rotativos modernizados, e em 1996 ganhou um sinal automático de nevoeiro.
Nogueira recorda “uma rotina exigente: limpezas diárias, manutenção de lanternas e do sinal sonoro — o famoso “ronca”.
“Um verdadeira escola”

O farol era mais que um local de trabalho. “Era uma verdadeira escola de faroleiros, com carpintaria, forja e formação prática. Muitos profissionais nacionais começaram aqui”, recorda o último dos faroleiros.
Apesar da modernização, Nogueira defende “a preservação da infraestrutura e dos sistemas antigos, como a trompa de nevoeiro”. Destaca que, mesmo “com sensores modernos, manter viva a história dos faróis é essencial”.
Câmara e Fórum recordam efeméride
Esta quarta-feira (18) Câmara de Esposende, Museu Marítimo do Fórum Esposendense e o diretor dos Faróis, comandante Pedro Miranda e Castro, assinalam os 100 anos do Farol. Armindo Nogueira e Silva, o último faroleiro, vai estar presente na conferência da efeméride a ter lugar no edifício do Fórum Esposendense, também ISN.
De quem é o Farol e futuro “risonho”
Hoje, o Farol de Esposende está sob responsabilidade da capitania de Viana do Castelo e integrado no Forte de São João Baptista, que o município escolheu requalificar para usos culturais, reforçando a ligação entre património e comunidade.
A estrutura histórica mantém-se acessível e faz parte de rotas locais de descoberta.
Este centenário é, acima de tudo, um tributo ao legado do farol e dos seus faroleiros: guardas silenciosos, que, como Nogueira da Silva, iluminaram mais do que o mar — iluminaram histórias de uma Esposende marítima e viva.