Gannett, a maior cadeia de jornais dos Estados Unidos e proprietária do diário “USA Today”, iniciou um processo de recrutamento de jornalistas especializados em inteligência artificial (IA).
Esta decisão surge após diversas polémicas relacionadas ao uso da tecnologia para automatizar conteúdos, reacendendo o debate sobre o impacto da IA na comunicação social, nomeadamente nos jornais.
Os sindicatos do setor já expressaram preocupações sobre os riscos da substituição do trabalho humano dos jornalistas.
Entre as vagas em aberto, destaca-se a posição de editor de desporto com IA, que será responsável por liderar uma equipa de jornalistas e especialistas em tecnologia dedicada à produção de conteúdos automatizados.
O salário deste profissional pode chegar a 128 mil euros anuais. Há também oportunidades para repórteres de desporto assistidos por IA, que utilizarão ferramentas de inteligência artificial e dados para gerar conteúdos, com um pagamento de 30 a 35 euros por hora, podendo o trabalho ser realizado remotamente.
A decisão da Gannett não foi bem recebida pelos sindicatos de jornalistas. Susan DeCarava, presidente do The News Guild of New York, criticou a medida, enfatizando que o jornalismo envolve conexões e competências humanas que não podem ser substituídas pela tecnologia. “Jornalismo é muito mais do que compilar informação para uma história”, afirmou.
Esta não é a primeira vez que a Gannett se vê envolvida em controvérsias relacionadas com a IA. Em 2024, a empresa fechou o site de avaliação de produtos “Reviewed” após ser acusada de publicar análises geradas por inteligência artificial sem a devida transparência.
No ano anterior, suspendeu um programa de escrita automatizada de conteúdos desportivos devido a críticas sobre a baixa qualidade dos resumos de jogos de futebol americano.
A Gannett defende que o uso da IA permitirá expandir a cobertura desportiva e libertar jornalistas para reportagens mais aprofundadas, garantindo que todas as etapas do processo contarão com supervisão humana para assegurar a qualidade e a precisão dos conteúdos.
No entanto, a iniciativa levanta questões delicadas sobre o futuro da profissão e a integridade do jornalismo.
Um estudo recente do Tow Center for Digital Journalism, da Universidade de Columbia, revelou que motores de busca baseados em IA falharam em mais de 60% das citações analisadas, alertando para a crescente dificuldade em distinguir informações precisas de dados gerados erroneamente.