Brincadeirinha à parte, o ciclo de António Costa parece ter chegado ao fim. E ainda bem. António Costa pode ter sido o 80 como político, nomeadamente, na arte de formar e manter suporte ao Governo, mas como estadista foi o 8.
Não fez reformas, agravou a carga fiscal sobre os portugueses, hostilizou permanentemente o maior partido da oposição, ao arrepio da tradição e boa prática democráticas (por contraponto, veja-se o exemplo do governo PSD, de Passos Coelho, em tempos em que o PS, liderado por António José Seguro,
passava por enormes dificuldades, e entendeu-se, e bem, que não se deveria aproveitar o momento para achincalhar o PS, mas, antes, para continuar a procurar entendimentos nas reformas essenciais para o país, o que aconteceu, por exemplo, com a grande reforma dos Códigos do IRC e do IRS), e, sobretudo, diminuiu bastante o prestígio e ética do Governo, com a manutenção de ministros e secretários de estado a braços com problemas com a justiça.
Se o ciclo de António Costa, como dizíamos, poderá ter chegado ao fim, tal não é certo quanto ao PS no governo deste país.
À data, o PSD não consegue liderar de forma eficaz as intenções de voto, pois nalgumas surge atrás do PS, e naquelas em que aparece posicionado em primeiro lugar, não convence, pois a distância é ínfima para o PS.
Como dizia recentemente Miguel Morgado, Luís Montenegro não pegou no seu primeiro ano como líder. Tem razão. E essa impressão salta à vista dos portugueses e do próprio PS que acredita poder manter-se no poder.
Ao PSD e Luís Montenegro não basta serem uma alternativa ao PS e a António Costa, têm de parecer também. Em tempos, um amigo meu social democrata lamentava que o PSD estivesse a pele e ossos, tal era a pobreza do seu grupo parlamentar e a ausência de novos rostos.
Esta é, pois, uma altura certa e decisiva para o PSD demonstrar que mantém a sua aura reformista, trazendo para a frente de combate o melhor da sociedade civil, que o PS tanto ignorou e não trouxe para o Governo nestes oito anos.
O PSD tem, por isso, de protagonizar uma frente de candidatura alargada. Quanto ao CDS, há que integrar essa frente. Será um erro se tal não acontecer.
Antoine de Saint-Exupéry escreveu um dia «Se quiseres construir um navio, não comeces por dizer aos operários para juntar madeira ou preparar as ferramentas; não comeces por distribuir tarefas ou por organizar a atividade. Em vez disso, detém-te a acordar neles o desejo do mar distante e sem fim. Quando estiver viva esta sede meter-se-ão ao trabalho para construir o navio.»
A Direita, para lograr ser novamente Governo, tem de acordar nos portugueses o desejo de um Portugal mais reformista e solidário.