Recuperação do abutre-preto em Portugal enfrenta um novo obstáculo: a perseguição a tiro.
Nos últimos meses, pelo menos três destas aves protegidas foram alvejadas, levantando preocupação entre ambientalistas, autoridades e caçadores, que condenam veementemente tais atos criminosos.
Crime ambiental gera onda de repúdio
O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) denunciou recentemente mais um caso de um abutre-preto alvejado, desencadeando uma onda de repúdio.
Diversas entidades, incluindo organizações de conservação da natureza e representantes do setor da caça, manifestaram a sua condenação.
As três principais organizações do sector da caça (ANPC, FENCAÇA e CNCP) expressaram “solidariedade com o projeto LIFE Aegypius Return“, reafirmando a necessidade de responsabilização dos culpados e prevenção de novos casos.
Monitorização essencial para combater o crime
A utilização de dispositivos de monitorização remota tem sido fundamental para identificar ameaças e localizar abutres abatidos.
No entanto, como nem todas as aves podem ser equipadas com emissores, a colaboração entre entidades e centros de recuperação é essencial para compreender o panorama da perseguição ao abutre-preto e outras espécies protegidas.
Casos recentes de abutres alvejados
Mirante
O abutre Mirante, nascido na Herdade da Contenda e marcado com GPS/GSM, foi abatido a tiro na região de Huelva, Espanha, em setembro de 2024. O seu emissor permitiu a localização do cadáver, tendo a necropsia confirmado que foi alvejado por uma espingarda.
Bobadela
Em novembro, um juvenil foi encontrado ferido a tiro em Loures. Capturado e entregue no Centro de Recuperação de Animais Silvestres de Lisboa (LxCRAS), não resistiu aos ferimentos.
Pousio
O abutre Pousio, cria da colónia da Herdade do Monte da Ribeira, foi encontrado ferido em janeiro. Com múltiplos chumbos no corpo, foi resgatado e está em recuperação, embora as sequelas possam comprometer a sua sobrevivência e reprodução.
Impacto da perseguição na espécie
O abutre-preto é uma espécie necrófaga essencial para o equilíbrio dos ecossistemas. Alimentando-se exclusivamente de carcaças, não representa qualquer perigo para a agricultura ou para os humanos.
A sua população foi extinta como reprodutora em Portugal na década de 1970 devido à perseguição e perda de habitat, só regressando quatro décadas depois. Cada perda compromete a recuperação da espécie.
Importaância da colaboração para erradicar o crime
O combate a este crime ambiental exige uma investigação rigorosa e a participação de autoridades, veterinários, ONG e cidadãos.
Denúncias são fundamentais para punir os responsáveis e impedir novos crimes. Para reportar situações suspeitas, pode-se contactar a linha SOS Ambiente e Território (808 200 520) ou visitar www.gnr.pt/ambiente.aspx.
Este comunicado é subscrito pelas entidades do projeto LIFE Aegypius Return e pelos representantes do setor da caça, reforçando o compromisso comum na defesa da biodiversidade.