Uma “smart city” utiliza a tecnologia para criar melhores condições e qualidade de vida aos cidadãos que lá habitam, estudam ou trabalham, ao nível da mobilidade, da sustentabilidade, da segurança, da inclusão social e cultural, da habitação.
Um concelho pode, por exemplo, recolher dados sobre em que zonas se recicla menos, de forma a criar planos de sensibilização da população para a reciclagem e aplicar incentivos na fatura da água.
Reparem que mais reciclagem significará menos lixo comum, ou seja, menos lixo que a SUMA – empresa de recolha de resíduos – teria de vir recolher a Esposende e, por conseguinte, menos dinheiro que a Câmara Municipal lhes tinha de pagar pelo serviço, já que a SUMA se cobra por tonelada de lixo que recolhe. Isto podia implicar redução na fatura da água, se a Câmara de Esposende (C.M.E.). e a Esposende Ambiente assim o quisessem (tem lá uma linha na fatura relativa à gestão de resíduos; podem verificar!).
Outro exemplo, seria as cidades inteligentes fornecerem dados ao cidadão, através de uma “app”, sobre quais as zonas da cidade em que há estacionamento vago, em tempo real, de forma a evitar que gastemos combustível a dar 3 ou 4 voltas à procura. Contraintuitivo é Esposende ter um défice de estacionamento e a C.M.E. estar atualmente a fazer obras no centro da cidade que vão acabar com muitos lugares para estacionar, mas isso é já outro tema!
Ora, atualmente, vemos um esforço real de muitas autarquias para se tornarem “smart cities”. Em Sintra, a autarquia atribui um desconto na fatura da água às famílias que adiram ao programa de recolha de resíduos alimentares.
Consiste na entrega a todos os cidadãos de uns baldes pequenos para esse tipo de resíduo orgânico (cascas de fruta, saquetas de chá, guardanapos de papel…) que as pessoas mantêm em casa e posteriormente colocam num contentor maior na rua, à semelhança daqueles verdes de lixo comum.
Guimarães está a ir pelo mesmo caminho. Também já vi contentores de resíduos orgânicos nas ruas da cidade da Póvoa de Varzim e em Lisboa. Aliás, é obrigatório as entidades responsáveis adotarem medidas de operacionalização da recolha seletiva dos bio resíduos até 31 de dezembro de 2023, como estabelece o regime geral da gestão de resíduos (Decreto-Lei n.º 102-D/2020, de 10 de dezembro).
Facilmente percebemos o impacto destas medidas: melhor gestão de resíduos, cidades mais limpas, mais “respiráveis”, melhor qualidade de vida!
Também em Águeda, há uma série de aplicações para o telemóvel. Umas para dar informações relevantes aos cidadãos, em tempo real; outras para utilização do cidadão para reportar incidentes ou situações desagradáveis que encontrem na cidade, para que a autarquia possa estar a par dos problemas reais e agir sobre eles com celeridade.
Bem, e Esposende? Aqui há um longo caminho pela frente. De tecnologia, temos uma “app” que nos dá informações sobre a meteorologia, sobre os rios existentes no concelho, sobre a rede IP, e pouco mais… Nada de dados dinâmicos, nada de informações em tempo real do que realmente importa.
E atenção, que muitas informações nem estão a funcionar… Provavelmente, porque as caixas que estão no terreno a recolher essa informação estão enferrujadas, descuidadas, algumas já podres e não funcionais. Para esse facto, já alertou o vereador Luís Peixoto em reunião de Câmara de dia 10 de novembro de 2022.
Os fãs de Manoel de Oliveira e do filme Aniki Bobó devem ter percebido a referência do início do texto. Um dos jovens diz no filme que se fosse
muito rico comia bifes com manteiga todos os dias, “ai que bom que era!”.
Pois nós, cidadãos de Esposende ou que visitam, trabalham ou estudam aqui, em matéria de cidade inteligente também só pensamos no bom que era os nossos governantes pensarem no território com visão e estratégia, com a eficiência e a sustentabilidade presentes nas decisões, sob pena deste mandato ser conhecido como o mandato dos muros e das obras redundantes.