O delegado de saúde de Viana do Castelo, Luís Delgado, confirmou ao E24 a existência de um caso de tuberculose em Ponte de Lima.
Este jornal sabe que a situação decorreu numa das unidades de produção da multinacional ZF em Ponte de Lima, nomeadamente na Gemieira.
O paciente infetado será uma cidadã de origem brasileira, entretanto acompanhada pela Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM) no Hospital de Viana do Castelo.
Segundo Luís Delgado o caso “não é grave” e a equipa multidisciplinar da ULSAM está a realizar a um conjunto de procedimentos, nomeadamente junto das pessoas que estiveram em contacto com a pessoa infetada.
“Identificar e selecionar os contactos a rastrear revela-se de extrema importância, sendo que no momento do diagnóstico, devem ser identificadas todas as pessoas”, afirma o procedimento, que no caso da ZF pode chegar às 300 tendo em conta os turnos.
Tuberculose em número em Portugal. Viana o quarto mais afetado entre crianças
Em 2022, Portugal registou 1.518 casos de tuberculose, mantendo uma tendência de redução nos últimos seis anos. No entanto, o país ainda está longe dos objetivos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o controle da doença.
A incidência foi de 13,4 casos por 100 mil habitantes, com 91 mortes registradas, resultando em uma letalidade de 8,6% entre todos os casos.
A maioria dos casos notificados era composta por novos casos (1.403), enquanto 115 eram retratamentos. A taxa de notificação foi de 14,5 casos por 100 mil habitantes, destacando-se uma concentração maior em homens (65,7%). Na distribuição regional, Lisboa e Vale do Tejo e Norte foram as áreas mais afetadas.
Apesar da redução anual média de cerca de 4% na incidência e de aproximadamente 6% na mortalidade desde 2015, a diminuição não ocorre tão rapidamente quanto o desejado para atingir as metas da OMS até 2035.
A região de Lisboa e Vale do Tejo observou um aumento na taxa de notificação, enquanto o Norte apresentou uma diminuição. O tempo até o diagnóstico também permaneceu elevado em 2022, apesar de uma ligeira queda em relação ao ano anterior.
Destaca-se também a preocupação com os casos de tuberculose em crianças, com um aumento na taxa de incidência em menores de cinco anos. Embora os números sejam considerados pequenos, há casos registados mesmo em crianças vacinadas com BCG.
Lisboa e Porto foram os distritos mais afetados nesse grupo etário, seguidos por Aveiro e Viana do Castelo.
O Programa Nacional para a Tuberculose (PNT) da Direção-Geral da Saúde (DGS) destaca estratégias prioritárias, como o encaminhamento de doentes graves para consultas especializadas, a promoção de formação em tuberculose e a articulação entre os diferentes níveis de cuidados de saúde.
DGS publica recomendações para diagnóstico atempado em crianças
A Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgou hoje o referencial para o diagnóstico de tuberculose em crianças, defendendo que a uniformização da metodologia diagnóstica e terapêutica permite detetar precocemente a doença e iniciar o tratamento eficaz.
“A tuberculose na criança representa um desafio no seu diagnóstico e na decisão de tratar”, lê-se no documento publicado pelo Programa Nacional para a Tuberculose da DGS, que é dirigido aos pediatras, médicos de família e especialistas de Saúde Pública, Infecciologia e Pneumologia que trabalham com crianças e, especialmente, com menores com suspeita da doença.
A DGS destaca o desafio de diagnosticar a doença em crianças, observando que as manifestações clínicas são frequentemente inespecíficas, o que pode resultar em atrasos no diagnóstico. Tosse persistente é o sintoma mais comum, podendo variar em apresentação.
O documento ressalta que a suspeita de tuberculose pode surgir através da observação clínica de sintomas como tosse persistente e/ou febre, ou após identificação da criança como exposta a um caso infeccioso.
A ocorrência de tuberculose em crianças é considerada um indicador de falência dos programas de controlo da doença na comunidade, apontando para a necessidade de identificação precoce e tratamento preventivo.
Crianças, especialmente até aos cinco anos, têm um risco aumentado de infeção, mesmo com exposição breve.
O diagnóstico e início do tratamento geralmente dependem da combinação de dados epidemiológicos, clínicos, laboratoriais e imagiológicos, além de uma história clínica completa da criança e dos seus contactos.
A tuberculose pulmonar é a forma mais comum da doença, e o documento sublinha que o diagnóstico deve considerar histórico de contacto com casos diagnosticados ou suspeitos, entre outros fatores.
A tuberculose continua sendo uma das principais causas de morte globalmente, afetando cerca de um quarto da população mundial.
Em 2022, foram notificados 10,6 milhões de casos e cerca de 1,3 milhões de mortes, refere a DGS, sublinhando que cerca de 12% dos casos ocorrem em crianças até aos 15 anos.
Regresso da Vacina?
Num artigo de opinião publicado no Jornal do Algarve, o médico pediatra, Luis Batalau, reitera urgência da vacinação contra tuberculose em recém-nascidos.
Batalau expressou preocupação à Direção Geral de Saúde sobre a chegada de refugiados de regiões com alta taxa de tuberculose. Propôs o reinício da vacina BCG, cancelada há 7/8 anos.
Apesar da resposta da DGS garantindo controlo, recente aumento de casos reforça sua posição. Batalau critica falha dos “controladores” e insiste na vacinação universal como medida preventiva eficaz.
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