A vida era difícil em Portugal. Falo essencialmente do medo sentido e da repressão vivida nestes tempos: sabemos bem que a população foi “despida” de liberdades no regime do Estado Novo. Mas é seguro dizer que as mulheres foram mais afetadas.
Desde logo, as mulheres não podiam votar, já que o homem é que era o “chefe de família”. Discriminar uma fatia da população neste particular apenas porque não nasceu homem é impensável nos dias de hoje – assumo, claro, que todos são a favor da democracia e contra o fascismo e misoginia.
Apesar de já podermos votar, fazer parte e encabeçar listas políticas, apenas 29 mulheres são presidentes de Câmara em Portugal, num universo de 308 municípios, e no nosso distrito de Braga só há uma. São dados de que, no limite, conseguem tirar ilações sobre as mentalidades das populações.
Ora, voltando ao passado, as mulheres viam-se *castradas* à nascença da possibilidade de sonhar com carreiras profissionais de relevância e sucesso. A mulher era vista apenas como um ser reprodutor, cuidador do lar, sem direito a vontade e vida própria, e tinha de viver uma vida inteira à sombra do marido. Veja-se que, atualmente, são mais mulheres (cerca de 59%) a concluir o ensino universitário e politécnico do que homens (cerca de 41%), revelando que a mulher não se conforma, procura o conhecimento e consegue chegar onde antes só homens chegavam.
Sabemos que, no que concerne aos direitos das mulheres, o ritmo de avanço é preocupantemente baixo. Em 2023, em Portugal, as mulheres representam 50% da população ativa – que trabalha -, mas só 6% ocupa cargos em posições de topo (estudo da *McKinsey & Company*). A disparidade salarial entre homens e mulheres é também uma realidade: o rácio de paridade é de 11,9%, ou seja, só dentro de 28 anos é que deixará de haver diferenças salariais por género, e só se a dinâmica dos últimos três anos for contrariada (dados da Eurostat de 2021)!
Tendemos a olhar para estes dados de forma negativa no dia-a-dia, porque são factualmente dados preocupantes e censuráveis. Mas fazendo uma reflexão sobre o que era Portugal há meio século e o que é agora, é indiscutível a diferença, para melhor, nos direitos humanos, mais propriamente das mulheres. Devemos sentir Abril como um passo no que é uma longa caminhada a percorrer no sentido certo.
Muitos de nós não viveram a ditadura e o fascismo pessoalmente, mas é nosso dever e obrigação que nos instruamos sobre o passado, para que não deixemos que a história se repita.
Viva Abril, viva a liberdade, o povo e Portugal!