Começo com uma declaração de interesses: Nunca falei com Paulo Gonçalves.
Nunca o conheci pessoalmente, terei-o visto algumas por Esposende e hoje arrependo-me de nunca me ter aproximado dele lhe ter dado de viva voz os meus parabéns pelas suas vitórias e pelas prestações no Dakar.
Como um rapaz que sempre foi apaixonado pelos desportos motorizados, e como muitos outros rapazes da mesma idade, sonhava um dia participar fosse de que forma fosse no desporto motorizado ou até trabalhar directamente num fabricante automóvel, seria já óptimo, e como muitos outros miúdos da minha idade, foi essa paixão que me levou a ingressar em engenharia mecânica.
Como tal, ter descoberto que alguém fazia companhia ao lendário Alexandre Laranjeira como representante esposendenses no mundo do desporto motorizado e em especial no motociclismo, quer pelo facto de estar ao nível mundial e numa altura em que esta disciplina tinha uma muito menor visibilidade face ao automobilismo, uma realidade apenas desfeita aquando do Paris-Dakar, ou quando surgiram nomes como Valentino Rossi e Michael Dohan nas corridas de pista.
E para alguém que via o mundo do desporto motorizado de nível mundial como algo dificilmente atingível, desde a falta de recursos financeiros para fazer a carreira evoluir até a um arrefecimento da competitividade nacional, ver alguém sair de Esposende, zona que não têm tradição de provas, nem de pilotos, nem de equipas, pareceia como sairmos da Terra e ir a Marte, pelo menos para mim.
Ainda mais de Marte se tornou quando Paulo Gonçalves se torna Campeão do Mundo em 2013 na Categoria Rainha. Terei de ser sincero, logo ai em 2013 Paulo Gonçalves deveria ter tido direito a uma rua ou a uma praça com o seu nome no concelho. Não é todos os dias que Esposende produz um Campeão Mundial absouluto.
E é esse o exemplo, e mote, que Paulo Gonçalves deve ser lançado a toda comunidade, e em especial aos jovens: não importa de onde vens, mas sim para onde queres ir e o que estás disposto a abdicar.
Quer no desporto, quer na vida em geral.
Um sucesso como Paulo Gonçalves é uma conjugação entre ter as oportunidades e trabalharmos arduamente para se tornarem um sucesso e é isso que enquanto comunidade devemos fazer dele um exemplo para todos, e também como comunidade devemos perceber que temos de pelo menos dar uma hipótese inicial aos nossos jovens de ter uma carreira naquilo que os sonhos dizem. E não só no Desporto, mas também na Música, nas Artes Escritas, nas Artes Gráficas, na Representação, na História, na Arqueologia, na Astronomia, na Preservação da Natureza e tantas outras vertentes.
É este esgar, desamarras de nós, soltar os sonhos e a vontade, dar carvão à garra e alimento ao espírito que devemos proporcionar e o exemplo de Paulo Gonçalves deve ser um dos nosso maiores e melhores exemplos.
E sim, nunca o conheci em pessoa.
Quanto à memória de Paulo Gonçalves, deixo aqui um mote: trazer o motociclismo para este concelho.
A escultura em sua memória está magnífica, parabéns a toda a equipa que esteve encarregue de a tornar realidade, mas seria também frutuoso, e enriquecedor, trazer mais eventos motorizados para Esposende, em específico no motociclismo
Mais gente a ver, mais gente a praticar, mais gente envolvida, mais vida e mais homenagem a Paulo Gonçalves e criar apartir da sua memória um legado para o futuro e tornar o sonho em realidade a muitos miúdos.
Ao recordá-lo, criaremos também os “Paulo Gonçalves” de amanhã.