A demolição de Fôjo reune consenso entre a oposição e vereadores no executivo municipal de Esposende.
Em reunião de Câmara realizada hoje de manhã, Luís Peixoto, vereador independente, admitiu que concorda com a demolição.
“Pois tudo o espaço foi crescendo de forma abusiva e legal. Não tem condições e coloca em causa a saúde pública”, afirmou ao E24, deixando no entanto a vontade de que “se deve preservar o legado do Sérgio do Fôjo”.
“Essa é a segunda componente. É um espaço imaterial de memória que tem que ser preservado. São várias gerações de fangueiros, esposendenses e muita gente de fora que ali passou e viveu o Fôjo. Essa memória e espólio tem que ser preservado e perpetuado”, afirma.
Já o presidente da Câmara de Esposende, Benjamim Pereira, esclareceu o processo de demolição do Fojo, uma área junto ao Rio Cávado.
O governante destacou que a intervenção tem duas vertentes: “a legalidade da edificação e a preservação da memória do antigo proprietário, Sérgio do Fojo”.
Relativamente à questão legal, Pereira sublinhou que a jurisdição do terreno pertence à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e não à Câmara Municipal.
Segundo o histórico, a área é domínio público hídrico, e não existe qualquer título que possa comprovar a propriedade privada do terreno. O presidente reforçou que a “ocupação foi ilegal” e “as construções foram feitas sem licenciamento”, tendo o local sido “abandonado há mais de uma década”.
“Com o tempo, a área tornou-se um foco de insalubridade e um risco para a saúde pública, com a presença de materiais perigosos, como amianto”, disse.
A situação levou à intervenção de várias entidades, incluindo a APA, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Capitania de Viana do Castelo e a Proteção Civil.
A APA emitiu editais para a remoção das construções e, após o término do prazo para reclamações, a Câmara estabeleceu um protocolo com a agência e contratou uma empresa para proceder à demolição. Além das construções, foram removidas árvores não autóctones, seguindo orientações do ICNF, e iniciou-se a descontaminação do terreno, que inclui fossas de esgoto obsoletas.
Sobre a memória de Sérgio do Fojo, figura conhecida localmente, Pereira explicou que a Câmara apresentou uma proposta à família para a preservação de elementos patrimoniais do local, oferecendo 25 mil euros para adquirir as placas e outros objetos simbólicos, com o intuito de criar um monumento ou exposição em homenagem a Sérgio.
O presidente também sugeriu “a realização de uma biografia sobre a vida de Sérgio e a revitalização do Festival das Nortadas”, evento musical anual organizado pelo próprio Sérgio.
No entanto, a família recusou a proposta por duas vezes.
Apesar da recusa, Pereira garantiu que a autarquia preservou todos os objetos com inscrições do local, que estão a ser fotografados e guardados em armazéns da Câmara, sem intenção de os destruir. O presidente reiterou que não existe qualquer conflito com a família ou com a memória de Sérgio do Fojo, sublinhando que a intervenção foi necessária por questões legais e ambientais, e que a autarquia continua aberta ao diálogo para encontrar soluções.