Em tempos de grandes desafios como os que vivemos, é costume socorrermo-nos da experiência daqueles que já passaram por situações similares. Churchill, que sobreviveu a duas guerras mundiais diz-nos que, em tempos como estes, “um homem faz o que deve, apesar das suas circunstâncias pessoais, dificuldades e pressões….e isso é a base da humanidade”
E é a isto mesmo que temos assistido. A comida continua disponível para todos, o lixo continua a ser recolhido e tratado, os profissionais de saúde, policias, bombeiros, entre muitos outros deixam as suas famílias para cuidar dos outros…E todos, todos sem exceção devem fazer a sua parte – ficar em casa!
Enquanto profissional da saúde considero também ser minha função oferecer o máximo de informação credível sobre esta temática, na esperança de sossegar alguns espíritos mais inquietos e combater a muita informação falsa que circula pelas redes sociais.
Os coronavírus são uma família de vírus que podem causar infeções nas pessoas, podendo ser semelhantes à gripe ou evoluir para uma doença mais grave, como pneumonia. Normalmente surge em surtos, em intervalos regulares e, da mesma forma que aconteceu com a Gripe A ou o MERS, provocam infeções mais ou menos disseminadas e graves entre a população obrigando a um esforço por parte da sociedade cientifica para procurar um cura e / ou vacina adequadas.
Esta nova doença – o covid 19 (assim designada para identificar o ano em que surgiu) foi recentemente identificada como uma pandemia, pela sua capacidade de infetar com facilidade seres humanos e de ser transmitida de uma pessoa para outra, de forma eficiente e continuada. O facto de muitos dos seus portadores não apresentarem quaisquer sintomas ou manifestarem sintomas similares ao de uma simples gripe, torna o contágio “silencioso” e promove a sua disseminação inconsciente.
Até o momento, não há uma cura ou vacina conhecida para esta nova doença pelo que evitar a sua rápida disseminação é absolutamente crucial.
Uma vez infetado, o corpo pode reagir de duas maneiras. Ou o sistema imunitário é capaz de apresentar uma resposta eficaz perante o vírus, controlando-o, e o individuo manifesta uma doença leve (o que deverá corresponder à maioria da população), ou o corpo apresenta um sistema imunitário mais débil associado a outras co-morbilidades, levando à necessidade de cuidados mais especializados de suporte, tais como o suporte ventilatório, drogas para o sistema circulatório, terapias de substituição renal, entre outras, que permitem ganhar tempo até o organismo “conseguir dar a volta” e vencer esta batalha contra os efeitos provocados pelo vírus.
Daí nunca ser demais realçar a importância de controlar a disseminação da doença. Este tipo de recursos (pelo seu custo e especificidade) é limitado, sendo fundamental que o número de casos graves não se multiplique acima da sua capacidade (como infelizmente vemos acontecer em Itália). Por outro lado, o número de profissionais treinados é também reduzido e precisa de ser gerido de forma a evitar o seu esgotamento ou a necessidade de recorrer a outros profissionais, menos experientes ou cuja experiência profissional é noutras áreas médicas, que poderão não saber gerir de igual forma o processo de doença. Na minha experiência profissional em cuidados intensivos, penso não ter visto mais de 4/5 casos graves ao mesmo tempo, pelo que não posso imaginar o que será lidar com 20/0 casos em simultâneo, como vemos noutros países.
Mas TODOS somos importantes! Cada um de nós, que fica em casa de quarenta e cada um de nós que sai de casa para assegurar os serviços à comunidade. Todos contámos nesta guerra! A sua ação é fundamental para evitar a propagação deste vírus.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um conjunto de medidas de higiene e etiqueta respiratória para reduzir a exposição e transmissão da doença:
Medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e a boca quando espirrar ou tossir, com um lenço de papel ou com o antebraço, nunca com as mãos, e deitar sempre o lenço de papel no lixo;
Lavar as mãos frequentemente. Deve lavá-las sempre que se assoar, espirrar, tossir ou após contacto direto com pessoas doentes. Deve lavá-las durante 20 segundos (o tempo que demora a cantar os “Parabéns”) com água e sabão ou com solução à base de álcool a 70%
Evitar contacto próximo com pessoas com infeção respiratória
Evitar tocar na cara com as mãos
Evitar partilhar objetos pessoais ou comida em que tenha tocado
Apesar de todos estarmos em risco, devemos ter atenção particular às populações de maior risco – os idosos e doentes crónicos – que devem respeitar rigorosamente o seu isolamento e tomar cuidados extra com a sua higiene e medidas de etiquetas respiratória. O uso de luvas e máscara não estão recomendados para indivíduos saudáveis pois podem conduzir a sensações de falsa segurança e pela sua incorreta manipulação aumentar o risco de infeção. Deve também estar atento aos seguintes sintomas:
Febre (T>37,5ºC) • Tosse • Dificuldade respiratória (Falta de ar)
Se tiver um ou vários destes sintomas mas acredita que não esteve em contato com um doente com COVID19, deve entrar em contacto com o seu centro de saúde por telefone ou email (algumas seguradoras oferecem apoio médico por telefone ou online pelo que se tiver um seguro de saúde poderá ser outra solução a considerar). Se acredita que esteve em contacto com um doente com covid19, deve contactar a linha SNS 24 – 808242424 para receber alguns conselhos sobre o que fazer e onde se dirigir se necessário. Terá de ter paciência e aguardar, pois, as linhas estão saturadas mas por favor não desligue e mantenha-se em isolamento até receber indicações sobre o que fazer. Se o seu quadro clínico piorar, deve entrar em contacto com o 112.
Como em todas as situações em saúde, devemos ter em atenção que os recursos são limitados e deverão ser utilizados de forma conscienciosa por todos. Em alturas de maior pressão, é importante termos também em consideração que os profissionais de saúde vivem uma dupla situação de stress. Têm de pensar em cuidar dos doentes à sua responsabilidade e têm, ao mesmo tempo, que cuidar e proteger a sua família, que corre riscos diariamente. E como podemos ajudar estes profissionais? Ao não aumentar a população doente. Ao reduzir o risco de ficarem infetados, ao se manterem seguros, ao manter a calma e colaborar com eles em tudo o que vos é pedido.
Até se descobrir uma cura ou uma vacina que permita manter a maioria da população segura contra esta doença, temos de nos resguardar e evitar que o sistema de saúde seja submetido a um número de casos graves com que não conseguirá lidar. Durante este período de isolamento, temos também de nos manter especialmente atentos aos mais idosos, ao vizinho que vive normalmente sozinho e que pode precisar de ajuda com as suas compras ou de uma simples conversa, e aos mais novos para que possam viver esta situação de grande ansiedade e isolamento da forma mais normal possível
Portugal e o mundo vivem uma crise de saúde que vai colocar a todos à prova.
Nesta guerra, todos contam. Podemos contar consigo? 🙂