Primeiro, os romanos, na busca desesperada por ouro para manter o seu império de pé. Apesar dos meios mais rudimentares de exploração daquele tempo, comparativamente à maquinaria pesada e processos de mineração da actualidade, ainda hoje, e dois mil anos volvidos, algures entre a Galiza e Leão, nas Medulas, podemos constatar a permanente alteração da paisagem, como resultado dessa busca desenfreada por um recurso natural finito.
Também de referir que, naquele tempo, foi necessário escravizar as populações nativas, para extrair mais de duzentas toneladas de ouro do noroeste peninsular. Ainda assim, foi utilizada acção mecânica, para exploração deste minério, e não o recurso a químicos ou metais pesados, em que os seus efeitos poderiam perdurar no tempo, a exemplo das explorações auríferas contemporâneas, espalhadas por Portugal, que levantam preocupações.
Já no século XX, e em tempo da Segunda Guerra Mundial, vieram os alemães, na busca de matérias-primas para alimentar a sua máquina bélica, e numa espécie de jogo duplo de Portugal, perante os Aliados.
O tungsténio ou volfrâmio, foi o principal alvo, pois, Portugal, apesar da sua dimensão geográfica, tem uma das dez maiores reservas do mundo, sendo apenas superado por Espanha, Áustria e Rússia no continente europeu.
Apesar do declínio da sua exploração, as suas minas continuam a causar alerta ao Homem e ao Meio Ambiente, como o exemplo bem recente, dado a conhecer numa reportagem da SIC, nas Minas da Panasqueira, com o receio da descarga de efluentes não tratados, que poderão conter arsénio e metais pesados, a poluir um afluente do rio Zêzere. Não é a primeira vez que há um alerta do género para as Minas da Panasqueira, mais ainda, quando é esta água, que chega às torneiras dos habitantes de Lisboa e seus arredores.
Mais a norte, também havia preocupações com as minas de volfrâmio em Vila Nova de Cerveira, uma vez que, as suas escombreiras, continuavam a contaminar o rio Coura, afluente do Rio Minho. Mais recentemente, foram levantadas novas preocupações com os resíduos da exploração de urânio, em minas localizadas na zona centro do país.
“Faltavam ainda 20 das 61 minas que representam risco ambiental”, de acordo com uma notícia do jornal Público de 20 de Fevereiro de 2018.
Agora, com o empurrão da União Europeia, somos atirados para a Idade do Lítio, pois Portugal, é um dos países com maiores reservas do mundo. Ainda assim, a uma escala muito reduzida, quando comparado com os países que têm lugar no pódio, como a China e a Austrália, que monopolizam a sua mineração e processamento a nível global, uma vez que, a economia de escala, é absolutamente decisiva neste sector de actividade. A União Europeia também considerou como projecto estratégico a exploração de uma mina de lítio no norte da Galiza.
Sou a favor do desenvolvimento económico, mas não a qualquer custo, em função desta moda, que, além de ter um horizonte de exploração curto no Barroso, potencialmente inferior a 20 anos, e sujeita a ultrapassagem tecnológica e económica, com o advento de baterias (de sódio) que não necessitem de lítio, pode deixar uma pesada pegada ambiental, desde logo, na água que chega às torneiras de grande parte das populações das distritos de Braga, Porto e Vila Real, a juntar às consequências locais para os habitantes.
Além do enorme consumo de água que uma instalação do género implica, levantando justificadas preocupações, em anos de seca, também há o receio do que poderá acontecer com as descargas dos seus efluentes, igualmente, em grande escala, nas bacias hidrográficas do Cávado e Douro.
A história da mineração a nível global tem ensinado que a rentabilidade económica dos seus projectos não se coaduna com os custos de implementação de robustos sistemas de mitigação da poluição gerada. Daí que, as populações e o meio ambiente dos países mais pobres, e da China, estejam a sofrer com a deslocalização da actividade mineira da Europa e América do Norte nas últimas décadas.
Em França (Tréguennec) e na Sérvia (Gornje Nedeljice) existem projectos de exploração de reservas de lítio que estão a ser fortemente contestados pelas populações locais e organizações ambientalistas, em função dos impactos “na biodiversidade, nos recursos hídricos e na qualidade do ar”.
Enquanto em França, se avançou com uma providência cautelar, para suspender os trabalhos de prospecção, na Sérvia, os protestos têm sido em grande escala, contra as intenções do Governo e da gigante multinacional Rio Tinto.
Depois da proliferação pelo norte de Portugal das barragens, redes de transporte de energia, torres eólicas, que contribuíram para a redução da dependência energética do país, mas, também, com a alteração da paisagem, e com as implicações humanas e ambientais já conhecidas ou que ainda seguem a ser objecto de estudo, será a vez de assistir impavidamente, e sem discussão pública e política, sobre as consequências da abertura das explorações mineiras em cima de tão importantes mananciais de água essenciais à vida?