O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, atribuiu o título de membro honorário da Ordem do Mérito ao festival literário Correntes d’Escritas, que encerrou a sua 26.ª edição na Póvoa de Varzim.
Durante a sessão de encerramento deste encontro de escritores de expressão ibérica, Marcelo Rebelo de Sousa destacou a importância do evento para a cultura portuguesa, afirmando que “sem Correntes d’Escritas, Póvoa é menos Póvoa, norte é menos norte, Portugal é menos Portugal, língua é menos língua, pessoas são menos pessoas e viver é menos viver”.
O chefe de Estado explicou que já no ano anterior pretendia homenagear o festival, mas que tal não foi possível devido à sua ausência.
“Não ia enviar a condecoração por vídeo, nem comunicar por videoconferência. Há que condecorar a ideia, o conceito, a obra chamada Correntes d’Escritas”, afirmou, antes de entregar as insígnias ao presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou o momento para refletir sobre a sua própria relação com os livros, recordando-se como leitor compulsivo, colecionador, promotor de bibliotecas, editor e comentador literário. Destacou ainda a evolução da liberdade e democracia, lamentando a crescente intolerância que se verifica atualmente.
O Presidente da República não deixou de agradecer aos organizadores do festival, aos escritores, editores e “estoicos livreiros que ainda resistem, poucos, com as rendas [que têm]”.
Dirigiu-se também ao Secretário de Estado da Cultura, Alberto Santos, lembrando-o da sua obrigação de proteger o livro, mencionando que já discutiram o tema em três ocasiões recentes.
Antes da sessão de encerramento no Cineteatro Garrett, Marcelo Rebelo de Sousa visitou, acompanhado por Alberto Santos, uma feira do livro instalada no exterior.
Durante o percurso, foi apanhado a cantar e a recolher vários livros, enquanto partilhava preocupações sobre a atual gestão do Ministério da Cultura, que considera demasiado centrado no património em detrimento do livro.
Sobre o cheque-livro, iniciativa governamental de incentivo à leitura, o Presidente elogiou a ideia, mas reconheceu que “não cobriu todas as expectativas”, tendo ficado aquém do esperado devido a atrasos e falta de meios.
Durante o evento, foi também entregue o Prémio Literário Casino da Póvoa à poeta Andreia C. Faria. No seu discurso de aceitação, a escritora refletiu sobre o significado da poesia, defendendo que “os poemas são raros, são o sonho da linguagem, o sonho de uma língua comum”. Acrescentou ainda que, apesar de a poesia estar na rua, os poemas são mais esquivos, mas que quando surgem, “sabemos que falam de nós e para nós”.
A 26.ª edição do Correntes d’Escritas reafirmou-se como um dos mais importantes festivais literários de Portugal, reunindo escritores, leitores e profissionais do setor numa celebração da literatura e da liberdade de expressão.