Uma declaração de interesses desde já: nada me move contra quem quer vir morar junto ao mar.
É fácil de entender o porquê, boas vistas, contacto com a Natureza, recato grande parte do ano, quem não gosta?
É fácil de entender uma outra coisa: a costa esposendense vai ser resgatada pelo mar, mais dia menos dia, tornado obrigatório pensar qual a estratégia que será implementada para fazer face a tudo aquilo que ele vai resgatar.
Então, porque é o concelho vê mais novas construções a florescer na costa esposendense?
Não falo de quem já têm a sua há 30, 40 ou mais anos naquelas zonas, construídas quando os termos “planeamento urbanístico” ou “erosão costeira” eram termos distantes, com políticas não só poucas conhecidas e eram temas que não alarmavam a população. A essas casas, as forças públicas devem tratar cada caso com o respeito devido a quem chama aqueles locais de “casa” há décadas.
Falo claramente das novas construções que nasceram nas proximidades das dunas primárias da Praia de Suave-Mar em Esposende e da Praia da Ramalha na Apúlia.
Estas novas construções só se podem considerar anacrónicas à luz da desejável política ambiental implementada hoje e no futuro para o concelho, como um mais do que certo encargo financeiro para as gerações futuras com uma possível necessidade de relocalização das pessoas.
Mais do que sermos um privilégio da Natureza, devemos ser respeitadores da Natureza.
Se hoje já temos impactos derivados das alterações climáticas nas Pedrinhas, em Mar, na Praia da Bonança, na Foz do Cávado, na Praia da Guilheta, e um dia voltaremos a falar das Torres de Ofir, como poderemos não ser mais cautelosos e antecipadores do que possa ocorrer na Praia Suave Mar e na Ramalha?
Se sabemos que muito se vai alterar, que a Costa se vai alterar, que o nível das águas do mar se vai alterar, que o próprio quadro hídrico se irá alterar com as alterações climatéricas, porque insistimos no erro?
E o que fazer agora? Corrigir os erros já edificados custará caro, não tenhamos ilusões.
Se houve recursos financeiros para demolir o prédio Coutinho em Viana do Castelo por uma questão puramente estética, para a renovação das Pedrinhas e se hipoteticamente terá de haver para as Torres de Ofir, é claro que para o caso da Praia da Ramalha e da Praia Suave-Mar vai ter de haver recursos financeiros para corrigir o erro cometido.
Em termos preventivos, o concelho terá de criar uma zona de exclusão a partir das dunas primárias de toda a costa esposendense de possibilidade de novas construções, ou remodelações que aumentem a volumetria de construção já existente, permitindo apenas obras de remodelação, recuperação e manutenção às habitações já existentes.