A vida para a minha geração ainda não arrancou!
Faço parte do clube dos que entraram agora nos 40 e a cronologia não é misericordiosa com esta geração.
Vejamos então porquê.
Mal começamos a trabalhar descobrimos o que era a expressão sub-prime e como isso implodiu uma parte da economia nacional ,que se encontrava com desejos expansionistas, atirando toda uma geração para uma sucessão de estágios sem direito a remuneração, apenas tendo em alguns casos como retribuição senhas de refeição.
Diziam eles que ter experiência profissional através do estágio já era uma sorte.
Os estágios lá passaram a ser remunerados, mesmo que em alguns com a possibilidade de não ter descontos para a Segurança Social e sem direito a Subsídio de Desemprego, e a CIP logo se apressou a dizer que isto iria subir os custos do trabalho.
Mas esta maré de bonança financeira não durou muito.
Vimos os CEO’s dos principais bancos portugueses a sair do gabinete de Sócrates e uns dias depois com um Ministro das Finanças com cara de poucos amigos a pedir a vinda da Troika e alguns de nós ainda estavam no primeiro contrato, e a ganhar o Salário Mínimo Nacional, quando soubemos que afinal estávamos acima das nossas possibilidades.
Chegou Passos, e para além de vivermos acima das nossas possibilidades, ficamos a saber que nos devíamos culpar por não sermos Nórdicos (a Finlândia também pediu um resgate, já agora), chegou a noção da pobreza genética e inevitável e a noção de que deveríamos viver num estado de quase dedicação esclavagista para o trabalho.
Mandou-nos emigrar, deixar de ser piegas, cortaram o subsídio de férias e do Natal, passamos a saber o que era a TSU, reduziram o subsídio de desemprego e facilitaram os despedimentos e quase tudo foi privatizado.
Foi um dos maiores êxodos da história recente portuguesa e representou uma perda de capital humano que ainda hoje pagamos.
Mas tudo isto era culpa nossa.
Depois veio a Gerigonça, e a coisa aliviou, pensamos que ia ser agora que íamos ganhar a vida que pensávamos poder ter mas não.
A Europa e os EUA desaceleraram e chegou o COVID e a nossa vida parou mais uma vez porque tínhamos de ficar em casa.
Percebemos que era um sacrifício necessário.
O Covid passou e chegou a guerra definitiva no Leste.
Passamos a saber onde era Mariupol, Kharkiv e Zaporijia, a gasolina chegou quase aos 2,5€/litro, os preços do supermercado subiram como nunca tínhamos visto, a economia uma vez mais entrou em crise, e as rendas das casas com as novas taxas de juro ficaram impossíveis e com isso o preço das novas, e sem casa ninguém vive.
E em 2023, muitos de nós não levam mais do que 1.100€ para casa no final do mês.
Percebemos que não havia casas, que não vai haver casas, e que a única solução é construir com um prazo de 5 anos casas a preços que não vamos poder pagar durante 30 anos nem daqui a 15 anos.
E para juntar à festa, tivemos um presidente que adora convocar eleições antecipadas, dando instabilidade ao que já é instável.
Então chegamos a 2025.
E com 40’s, olhamos para aquilo que os nossos pais têm e começamos a perceber que nem aos 60’s vamos ter semelhante ou sequer vamos ter.
E o desespero começa a ganhar forma, lá no fundo da nossa mente.
Deixem-me ser sincero: Portugal precisa de nos pedir desculpas!
Fomos os sacrificados durante décadas, nunca nos devolveram as propinas, nunca nos deram créditos bonificados, nunca tivemos dinheiro da Europa fresco para construir.
Nada, absolutamente nada.