“As crianças não devem conhecer o mundo apenas através dos vidros dos carros”, afirmou Manuel Sarmento, diretor do programa de mestrado em Estudos da Criança da UMinho, que marcou presença num debate promovido pelo Bloco de Esquerda da Póvoa de Varzim que abordou as cidades para (e com) as crianças.
Manuel Sarmento destacou a importância da liberdade de movimento e da experiência direta com o espaço urbano para o desenvolvimento infantil. Defendeu “cidades mais humanizadas, com foco na mobilidade a pé”.
O docente da UMinho alertou para os efeitos negativos da limitação da autonomia das crianças: redução do conhecimento do espaço urbano, aumento da obesidade, diminuição da interação intergeracional e dificuldades na participação social.
Já Catarina Grande, professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, criticou o desenvolvimento urbano que cria áreas de exclusão.
“Junto a um condomínio de luxo pode estar um bairro social, o que limita o acesso das crianças a espaços adequados, promovendo segregação e privação de oportunidades”, explicou.
Andreia Teixeira, responsável pelo Clube de Expressão Dramática AverTeatro, destacou o papel da arte na integração social.
“A arte promove diálogo, empatia e entendimento entre diferentes grupos”, disse, referindo-se ao projeto que envolve toda a comunidade educativa de Aver-o-Mar, onde estudam crianças de 27 nacionalidades.
Carlos Gomes de Sá, natural de Forjães (Esposende) e diretor do Agrupamento de Escolas de Aver-o-Mar, sublinhou a importância de receber bem os alunos e suas famílias, promovendo a interculturalidade.
“No fundo trata-se de uma tarefa simples: receber bem os alunos e as suas famílias, encaminhando-as para os locais corretos consoante as suas necessidades e promovendo a interculturalidade”, destacou Carlos Gomes de Sá.
O Agrupamento de Aver-o-Mar impulsiona diversos clubes, como História, Teatro, Comunicação, Robótica, Desporto ou Artes. Para Carlos Gomes de Sá, esta aprendizagem “dá espaço à experimentação, fomenta a criatividade e o desenvolvimento pessoal”.
“É uma complementaridade mais prática, colaborativa e personalizada ao ensino tradicional que tem motivado os/as estudantes a aprender mais sobre cada um dos temas em que se envolvem”, disse.
Sara Cortesão, aluna do 8.º ano, deixou um apelo: “Os adultos perguntam-nos a opinião, mas depois nada acontece. Nós só queremos o mesmo que vocês queriam: ser ouvidos e levados a sério”.
A moderação esteve a cargo de Sara Miguel, psicóloga e cofundadora da cooperativa “Ser Natureza”, que promove o bem-estar através da integração da natureza e dos animais.